sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

“Experimentalismo” voyeurista

Jeferson Miola
A primeira experiência de administração petista no município de Canoas traz a marca do “experimentalismo” político. Com o peso no contexto econômico e político gaúcho – a cidade ostenta o segundo PIB municipal do Estado, ficando somente atrás da capital Porto Alegre; e é a quarta mais populosa do Rio Grande do Sul, com 323.705 habitantes [FEE, 2006] – é inevitável que o “experimentalismo” da gestão petista-pepista [PT-PP] em Canoas estimule a polêmica política.

A aliança tendo o PP no cargo de Vice-Prefeita, considerada pelos petistas de Canoas como “condição fundamental para se vencer as eleições”, causou mal-estar e controvérsia entre vários setores do PT [mas sem que houvesse qualquer vedação das instâncias partidárias, é bom dizer]. Afinal, sempre é difícil compreender a idéia de coalizão governamental do PT com o PP no Rio Grande do Sul, um partido conservador que faz do combate ferrenho ao PT sua profissão de fé, e ocupa postos chaves no governo Yeda Crusius. Além disso, a implicação de importantes dirigentes do PP nos escândalos de corrupção do Detran reforçariam a distância entre as duas agremiações.

Numa nova e ousada aposta, o prefeito Jairo Jorge nomeia Cézar Busatto como Secretário Especial de Inovação e Projetos Estratégicos. A biografia de Cézar Busatto não deixa dúvidas de sua incompatibilidade atávica com o PT: foi um dos principais artífices do desastre neoliberal do governo Britto no Rio Grande do Sul, de cujos efeitos o Estado padece e continuará sofrendo por muitos anos vindouros. E Busatto foi um dos que idealizou o combate odioso e rancoroso como método de oposição e demonização do PT e para a desconstituição simbólica do partido.

O novo Secretário de Inovação [sic] de Canoas, quando Chefe da Casa Civil do também desastroso Governo Yeda, nas confissões feitas ao Vice-Governador expôs o abismo que separa sua prática política de tudo o que o PT defende. E ele ainda demonstrou que, em matéria de inovação, é adepto ortodoxo do velho habitus político.

O prefeito Jairo Jorge tem liberdade de compor o governo da maneira que melhor julgar, porém a nomeação de Busatto esgarça totalmente a mais básica racionalidade política. É difícil compreender. Seria o mesmo que o Presidente Lula, o rei da “elasticidade política”, nomear seu algoz Arthur Virgílio [PSDB] Ministro de Estado do seu governo!! Seria simplesmente incompreensível.

Para alguns do PT, o pragmatismo virou finalidade, o objetivo último da política, a maneira mais segura para vencer, mesmo sem se saber o que significa vencer e para quê vencer. O pragmatismo prescinde o pensamento teórico, a estratégia, o programa, o debate fecundo e a idéia da construção histórica e paciente de uma hegemonia de esquerda. Este parece ser, cada vez mais, o PT.

O PT não morreu, como proclamava faceira a direita lacerdista e fascista em 2005. Esse era o sonho de consumo dos aliados de Busatto, que festejavam o “fim da raça” dos petistas. O PT, desde então, está cada vez mais vivo e mais forte. Nas eleições de 2006 e 2008, foi um dos partidos que mais cresceu. Ampliou prefeituras governadas e o número de vereadores e deputados eleitos. Se espraiou para todo o interior do país.
O PT é muito maior e bem mais forte que no início do governo Lula. A questão, contudo, é: qual PT cresceu e vem vingando forte?! O novo PT cada vez evoca menos – ou não mais evoca - os fundamentos que lhe deram origem e que explicavam as “razões militantes” e as “razões da política” para uma geração inteira de esquerda do país. Por isso é de se perguntar qual a aprendizagem política de muitos jovens petistas que se integram – e se entregam de alma – a responsabilidades e tarefas institucionais no marco da desconstituição teórica, ideológica e programática verificável na experiência petista-pepista de Canoas.

Com suas inovações e “experimentalismos”, Canoas pelo menos tem o mérito de expor uma fisionomia que é marcante do PT [ou do pós-PT]. E o faz como numa espécie de espetáculo voyeurista, explícito.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Brasil deveria propor Conselho de Segurança na Faixa de Gaza

A visita que faz o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, a Palestina e Israel, apesar de válida e importante, poderia ser substituída por um gesto mais agudo de diplomacia, se o Brasil deseja se credenciar como poder ativo e de influência efetiva na diplomacia internacional.

Por exemplo, o Brasil poderia tomar a iniciativa de propor a instalação do Conselho de Segurança da ONU na Faixa de Gaza até que as resoluções das Nações Unidas, sistematicamente descumpridas por Israel com a complacência dos EUA, fossem cumpridas. No mínimo, a presença do Conselho de Segurança e de autoridades de todo o mundo impediriam o prosseguimento do banditismo genocida que está em curso na Faixa de Gaza.

Agora que finalmente o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, pretende ir ao Oriente Médio fazer novos “apelos” de cessar-fogo, ganharia ainda maior transcendência uma proposta dessa natureza feita pelo governo brasileiro. Aliás, seria até uma forma de compensar o imperdoável atraso do maior dirigente da ONU, que sinaliza a viagem somente depois de feroz destruição e quase mil mortes contabilizadas, a imensa maioria crianças e civis palestinos.

Seria, enfim, uma tentativa digna diante da indecência com que as Nações Unidas se curvam aos mais flagrantes crimes de guerra que estão sendo cometidos por Israel.