quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Cenário eleitoral em Porto Alegre

Jeferson Miola
O cenário eleitoral de Porto Alegre parece estar em franca alteração. O que meses atrás pareceria estapafúrdio em análises de cenário eleitoral - como a ausência do PT no segundo turno -, poderá ser uma possibilidade realista, se persistirem as tendências e indicações vigentes.

Seria a primeira vez em 20 anos, desde 1988, quando o PT conquistou Porto Alegre com Olívio Dutra, que o PT ficaria fora da polarização real na cidade que mais originalmente vincou a natureza moderna, democrática e popular das administrações do PT. E que lhe deram evidência nacional e internacional, e lhe premiaram como sede do Fórum Social Mundial e do emergente movimento internacional contra o neoliberalismo.

A posição de potencial favoritismo de Maria do Rosário, perceptível até maio-junho, hoje é contrastada com um sentimento perturbador de estabilização desfavorável da candidatura. Dois aspectos confirmam as evidências preocupantes. Um, que a hipótese de re-eleição, para Fogaça, nunca foi antes tão crível quanto o é agora, favorecido por uma dinâmica eleitoral geral que é despolitizadora e de um “afirmativismo” asséptico. E [2], num contexto de fetichização da política, a Manuela não só parece ser a maior beneficiária, como política e eleitoralmente tem sido poupada das contradições de ter-se vinculado ao que de pior já ocorreu na política gaúcha após o fim da ditadura militar: o brittismo de cepa pura.

Me interrogo, diante desta situação, se em lugar da idéia duma política de “cenário clean em fundo azul celeste” não seria apropriado o antagonismo fundado na crítica, nas contradições dos adversários e na confrontação de projetos – passados e futuros? Não pareceria razoável a candidatura Maria do Rosário - pela tradição de 16 anos de governos do PT na cidade – criar agenda eleitoral e ter a ambição de polarizar o debate sucessório? Seria presunçoso o PT reivindicar a autoria de conquistas fundamentais como o Orçamento Participativo e o Fórum Social Mundial e ser ele, o próprio PT através de Maria do Rosário, a anunciar em voz alta e altiva que pode sim retomar tais conquistas, ao invés de outras candidaturas se apropriarem, distorcerem e anunciarem ao povo de Porto Alegre?

É certo que os dirigentes da candidatura Maria do Rosário e a direção do PT em Porto Alegre, com a responsabilidade que conquistaram, devem fazer uma apreciação apurada e rigorosa quanto aos destinos da campanha. [E, tomara, seja tal apreciação de convicção e amparo na realidade oposta às percepções preocupadas aqui alinhavadas]. É de se confiar, também, que corrigirão os rumos que devem ser corrigidos e em tempo adequado para a reversão de tendências aparentemente desfavoráveis.
Seria o pior dos mundos para o PT e para a esquerda brasileira uma hipótese de ausência no segundo turno eleitoral nesta que foi a capital mundial dos sonhos de esquerda.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Laurie Anderson e sua arte libertária

Para quem imagina que no mundo artístico nos Estados Unidos a voz mais ácida é a de Michael Moore, Laurie Anderson é um notável desmentido. Ela se apresenta em Porto Alegre, dentro da programação do 15º Porto Alegre em Cena, com um show que é uma criação complexa, instigante e politicamente forte.

Em termos musicais, sua arte é revolucionária, que faz um sincretismo harmonioso do eletrônico, das cordas e dos teclados. É ópera e rock. É ópera de rock progressivo, podendo ser também uma batida despretensiosa de sons primitivos. Consegue no violino os lamentos doídos e profundamente tocantes para a expressão de acordes mais dramáticos.

As letras das músicas - que são verdadeiros discursos musicados – são o hino duma melhor consciência política e anti-imperialista. E ela não é só contra Bush e seus partidários republicanos. Ela é ferozmente contra o sistema. Com uma consciência aguda do mal que os Estados Unidos faz ao mundo a partir da condição que se auto-imputa, de um protestantismo que o faz se definir como um país predestinado a civilizar o mundo e a humanidade. Ela expõe tudo isso com uma sutileza e inteligência diferenciada. A parábola e a metáfora são recursos usados em medida exata, e por isso concedem maior força argumentativa e fidúcia às suas convicções.

Laurie Anderson é um alento na arte e na política. Prova que a busca pela liberação não está fora de moda, de que se pode fazer arte com engajamento político e ambição libertária. Nestes tempos tenebrosos, com seus 61 anos ela é um saudável anúncio de que a história está longe do fim e de que os imperialismos, totalitarismos e capitalismos - esses sim - têm de ter fim.

Gilmar Mendes na Coréia. Clandestinamente?!?!

Mesmo que, por força de Lei se ignore o teor [ainda que muito revelador da suposta “independência” da Justiça – sic!] da conversa gravada que foi mantida por Gilmar Mendes, Presidente do Supremo Tribunal Federal, com o Senador Demostenes Torres, é inevitável concluir que ao menos o episódio da gravação teve um mérito: obrigou Gilmar Mendes a divulgar sua agenda institucional ao cancelar uma viagem declarada como oficial.

Assim, ao menos a Nação tomou conhecimento que o Presidente do Supremo Tribunal Federal do Brasil faria uma viagem oficial [?] à Coréia do Sul. Se não tivesse ocorrido o episódio da conversa gravada clandestinamente, a viagem de Gilmar Mendes passaria desapercebida, até mesmo “clandestina” para a sociedade que lhe paga o maior salário do País acrescido de mordomias diversas, como carro, motorista particular, casa funcional e sabe-se lá mais o quê.


Qual o motivo da visita que o Presidente do STF à Coréia do Sul nem o mais bem informado habitante de Seul deve saber informar. Devem haver motivos transcendentais que justifiquem uma viagem do Presidente da mais alta Côrte Judicial do Brasil à Coréia do Sul!


Bem faria Sua Excelência, o Ministro Gilmar Mendes, se revelasse à Nação o motivo, a agenda, a comitiva e os compromissos que teria na Coréia do Sul. O espírito público recomendaria também que os custos da viagem fossem divulgados. Tudo para que tal viagem oficial não passe como um ato clandestino e secreto do Presidente do STF.