sexta-feira, 11 de julho de 2008

Procuradores publicam Carta ao povo brasileiro

Procuradores da República de todo o país publicam carta à sociedade brasileira repudiando as decisões do Ministro Gilmar Mendes, Presidente do STF – Supremo Tribunal Federal, que liberou da prisão Daniel Dantas, Naji Nahas, Celso Pitta e outros pilantras que fazem parte da quadrilha recentemente desbaratada pela Polícia Federal.

A decisão monocrática de Gilmar Mendes, em velocidade supersônica e sem paralelo com outras decisões normalmente aplicadas aos filhos modestos do povo, é revoltante.

Dizem os Procuradores na carta à sociedade:

Carta aberta à sociedade brasileira sobre a recente decisão do Presidente do Supremo Tribunal Federal no habeas corpus nº 95.009-4.
Dia de luto para as instituições democráticas brasileiras
1.Os Procuradores da República subscritos vêm manifestar seu pesar com a recente decisão do Presidente do Supremo Tribunal Federal no habeas corpus nº 95.009-4, em que são pacientes Daniel Valente Dantas e Outros. As instituições democráticas brasileiras foram frontalmente atingidas pela decisão liminar que, em tempo recorde, sob o pífio argumento de falta de fundamentação, desconsiderou todo um trabalho criteriosamente tratado nas 175 (cento e setenta e cinco) páginas do decreto de prisão provisória proferido por juiz federal da 1ª instância, no Estado de São Paulo.
2.As instituições democráticas foram frontalmente atingidas pela falsa aparência de normalidade dada ao fato de que decisões proferidas por juízos de 1ª instância possam ser diretamente desconstituídas pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal, suprimindo-se a participação do Tribunal Regional Federal e do Superior Tribunal de Justiça. Definitivamente não há normalidade na flagrante supressão de instâncias do Judiciário brasileiro, sendo, nesse sentido, inédita a absurda decisão proferida pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal.
3.Não se deve aceitar com normalidade o fato de que a possível participação em tentativa de suborno de Autoridade Policial não sirva de fundamento para o decreto de prisão provisória. Definitivamente não há normalidade na soltura, em tempo recorde, de investigado que pode ter atuado decisivamente para corromper e atrapalhar a legítima atuação de órgãos estatais.
4. O Regime Democrático foi frontalmente atingido pela decisão do Presidente do Supremo Tribunal Federal, proferida em tempo recorde, desconstituindo as 175 (cento e setenta e cinco) páginas da decisão que decretou a prisão temporária de conhecidas pessoas da alta sociedade brasileira, sob o argumento da necessidade de proteção ao mais fraco. Definitivamente não há normalidade em se considerar grandes banqueiros investigados por servirem de mandantes para a corrupção de servidores públicos o lado mais fraco da sociedade.
5.As decisões judiciais, em um Estado Democrático de Direito, devem ser cumpridas, como o foi a malsinada decisão do Presidente do Supremo Tribunal Federal. Contudo, os Procuradores da República subscritos não podem permanecer silentes frente à descarada afronta às instituições democráticas brasileiras, sob pena de assim também contribuírem para a falsa aparência de normalidade que se pretende instaurar.
Brasil, 11 de julho de 2008.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

O atrevimento criativo e a criatividade atrevida

Freqüento o Templo do Internacional, o Estádio do Beira-Rio, desde os anos 1976 quando vim morar em Porto Alegre. É a época em que atuavam no Beira-Rio Falcão, Figueroa, Carpeggiani, Manga, Escurinho, Valdomiro, Batista, Caçapava, Marinho Perez, Lula, Jair [Príncipe Jajá], Dario [Dadá Maravilha], Flávio Minuano e outros craques eternamente venerados pela maior e melhor torcida do Rio Grande do Sul.

Nos últimos dez anos, compareci no Templo sempre que pude, a não menos que em média 25-30 partidas lá jogadas a cada ano; a grande maioria delas na companhia dos meus filhos Iagê e Thales. Neste período, foram muitas as partidas decisivas, a mais importante delas a decisão com conquista da Taça Libertadores da América.

Tive a oportunidade, por isso, de ver, assistir e viver a disputas memoráveis, gols maravilhosos, jogadas espetaculares, comemorações inesquecíveis, choros cortantes e, principalmente, o desfile de vistosos craques.

Neste último domingo, contudo, saí do Templo do Beira-Rio como uma sensação diferente, de um privilegiado que pôde gravar na retina as jogadaças do novo craque surgido da Usina incubadora de jogadores futebol que é o Inter.

Me refiro ao jovem Taison, 20 anos. Um show de atrevimento criativo. E também uma criatividade atrevida. Um menino destemido, escorregadio, nada fominha, dono de um futebol tão vistoso e exuberante que mais se parece uma obra de arte.

Além de tudo, Taison tem uma humildade e senso auto-crítico digno dos que reúnem características para serem também craques morais: apesar de ter errado [ou deixado de acertar] apenas dois passes das duas dezenas de passes desconcertantes feitos com perfeição no primeiro tempo do jogo, no intervalo declarou que “tinha errado muitos passes”.

Como colorado, tenho já me acostumado à idéia da provisoriedade de permanência de craques revelados no Templo, por imposição da força mercantil e global que domina o futebol. Saem vários todos os anos, e quase todos eles ainda pré-adolescentes. O último e mais marcante dessa espécie, até então, tinha sido o Alexandre Pato.

Tenho consciência de que Taison, como toda revelação, é já a alegria de ter aqui existido e ao mesmo tempo a tristeza de daqui ter partido. Me dou por feliz e privilegiado, entretanto, por tê-lo retido eternamente em minha retina e ter usufruído uma alegria lúdica, vívida e infantil com suas jogadas.

Por certo este guri será vitimado pela sina que aplaca os melhores, que têm de mostrar seus predicados a todo o mundo, como em cumprimento à ode do hino gaúcho, que profetiza que nossas façanhas devam servir de modelo a toda a Terra.

Há um livro de poemas do poeta e escritor uruguaio Mário Benedetti que se chama Adioses y Bienvenidas. Este livro do Benedetti foi a primeira metáfora que me veio à mente na saída do estádio hoje depois da vitória estupenda por três a zero contra o Curitiba, enquanto eu tentava entender porquê Taison durará como um cometa no Gigante do Beira-Rio. Porque ele é uma Bienvenida, é também um Adiós. E assim “vâmo vâmo” Inter, entre Bienvenidas y Adioses; entre um novo Taison que se irá e o outro Taison que virá.