quinta-feira, 19 de junho de 2008

Eles têm medo de quê?

Jeferson Miola
A cambiante conjuntura política gaúcha deu uma reviravolta de 180 graus nas últimas duas semanas. O Governo Yeda foi tirado do canto do ringue.
A base parlamentar se reagrupou monoliticamente, sem deserções. O Vice-Governador, que conhece em detalhes e tem documentadas muitas falcatruas - do financiamento eleitoral de Yeda a obscenidades do governo – perdeu o “furor ético” e silenciou. As classes empresariais - intendentes da “capitania hereditária” – colocaram todas as fichas no governo moribundo que subsistiu da crise. A mídia gaúcha passou a repercutir a crise em medida inversamente proporcional à proximidade do escabroso escândalo com a Governadora.
O conservadorismo político, econômico e midiático gaúcho conseguiu, a partir de um grande arreglo, recompor seu bloco. Em breve saberemos, entretando, ao “preço” [expressão utilizada pelo ex-Chefe da Casa Civil que denota a precificação das coisas e das pessoas] de quantos Detrans, Banrisuls, CEEEs, anistias e favores fiscais, empréstimos facilitados, isenções tributárias, concessões públicas, publicidades pagas e etc.
Esta é parte conhecida e abominável do jogo político praticado pelo reacionarismo da província. É a lógica do vale tudo desde que seja para prejudicar o PT ou para não permitir que circunstâncias possam favorecê-lo. É a velha política feita com ódio e de maneira odiosa. A mesma maneira que, aliás, obrigou o Rio Grande a esta tragédia que é o Governo Yeda, em nome da obstrução do retorno do PT ao Piratini.
Eles não querem o melhor para o Rio Grande, mas sim conservar os seus melhores interesses e privilégios. Eles não pensam no que poderia melhorar a vida de todos, mas naquilo que não atrapalhe os seus objetivos. Eles não fazem política a favor de alguma coisa, mas contra o PT. Eles sempre optam por planos para derrotar o PT, e nunca por projetos para governar o Estado ou as cidades - mesmo que os planos contra o PT sejam prejudiciais ao povo e ao futuro, e mesmo que os projetos do PT sejam o melhor para a sociedade.
Muitos deles fazem política com ódio e preconceito contra o PT, e têm medo daquele PT autêntico e programático que operou importantes transformações em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Foi assim que elegeram Yeda, com a idéia fantasiosa, mítica e vazia do “novo jeito de governar”; a reedição estadual da fraude “nirvanesca” que aplicaram com Fogaça em Porto Alegre para derrotar o PT. O Rio Grande e Porto Alegre ficaram pior com eles, mas como o que lhes interessa é “tirar” o PT e não deixá-lo voltar, então para eles a coisa está boa e deve continuar, mesmo que a população os repugne.
No fundo, isso ajudará o PT nas eleições deste ano. Eles estão todos empulerados no mesmo galho. A opção pela corrupção, ódio e desfaçatez lhes cobrará um alto “preço” [para usar novamente a expressão ao gosto de um dos “guias” deles]. Parafraseando o poeta Mário Quintana, eles passarão, nós passarinho ...

O que diria Comparato?

A tese de impeachment é sempre polêmica. E a polêmica só existe porque o assunto é passível de interpretações distintas dependendo do ângulo e da consciência jurídica que analisa o conteúdo incriminador.

Diante das evidências, bases probatórias, provas e indícios colecionados pela CPI do Detran, uma curiosidade se aguça: o que diria o notável jurista Fábio Konder Camparato a respeito da responsabilização da governadora Yeda Crusius?

segunda-feira, 16 de junho de 2008

diZerEs de camInHão

Na inconstante e ocasional seção “diZerEs de camInHão” de BiruTaDoSuL são postadas frases estampadas nos apara-barros dos caminhões que rodam as estradas da vida. Apara-barro, na concepção moderna de marketing, é uma espécie de “outdoor traseiro ambulante”.

A longa frase de hoje é:

A diferença entre flanelinhas de rua e as concessionárias de pedágios é que as concessionárias conseguiram contratos indecentes com o Estado, que a Yeda quer prorrogar.

Agonia e pânico de Yeda

A corrosão moral e política do governo de Yeda Crusius se aprofunda de maneira cada vez mais irreversível. Mesmo que eventual arreglo para salvá-la seja exitoso, a Governadora estará definitivamente debilitada para liderar uma dinâmica econômica, social e política requerida para o desenvolvimento do Rio Grande. Yeda não reúne as condições morais, éticas e políticas para tanto.

O governo Yeda Crusius já é o maior empecilho ao aproveitamento das condições virtuosas presentes nos tempos atuais de PAC, de aumento do emprego formal, do clima favorável ao setor agropecuário, de expansão de todos os créditos e dos investimentos sociais.
É um governo que agoniza nos braços daqueles partidos políticos que, tendo dentre seus quadros alguns integrantes das quadrilhas que saquearam o Detran [e presumivelmente tenham também atuação na CEEE e Banrisul, a considerar-se as confissões do ex-Chefe da Casa Civil Cézar Buzatto -, se arreglam para salvar Yeda na ilusão de que assim estarão se salvando a si próprios.

Nestas circunstâncias, é compreensível que a Governadora esteja num quadro exarcebado de perturbação. Embora se possa considerar inaceitável uma governadora de um Estado como o Rio Grande perder o controle, o equilíbrio e a sensatez, se é obrigado a admitir que a Governadora padece de uma crise delirante. A expressão última de seu delírio é a crença paranóica de que é vítima de uma hipotética “República de Santa Maria” liderada pelo “conspirador” Tarso Genro, Ministro da Justiça que é natural da cidade onde os integrantes da quadrilha atuaram mais fortemente.

Estranha a atitude da Governadora, que em nenhum momento criticou cada um dos seus ex-Secretários e ex-dirigentes da CEEE e Detran demitidos por envolvimento direto ou tangencial com os escândalos. Em nenhuma ocasião a Governadora se dirigiu à sociedade repugnando os réus que a cada informação do inquérito se percebe terem agido asquerosamente saqueando mais de 44 milhões de reais dos cofres públicos.

Em lugar do combate à corrupção e aos corruptos, a Governadora sempre foi elogios aos réus ou a pessoas que tiveram conduta reprovável. E não foi só a minimização do sentido simbólico do chope sorvido pelo ex-Secretário com Lair Ferst.
O Governo Yeda aposentou o Procurador do Estado Flávio Vaz Neto com um dos mais altos salários do Poder Executivo quando deveria abrir procedimento administrativo por demissão a bem do serviço público – procedimento, aliás, que a Assembléia Legislativa adotou em relação a Ubirajara Macalão.

A Governadora elogiou a atitude do Representante do Escritório do Rio Grande do Sul em Brasília, que prevaricou ao receber a carta de Lair Ferst e que traficou interesses do lobistas em órgão público. Seu ex-Secretário-Geral de Governo, Delson Martini, que foi blindado durante 60 dias para finalmente ser desmascarado como intermediário das quadrilhas e porta-voz da Governadora junto às mesmas, não recebeu nenhuma repreensão ou censura pública dos seus atos.

Ela também condenou com veemência o Vice-Governador Feijó, porém não se explicou sobre as confissões do seu ex-Chefe da Casa Civil de que os desvios do Detran fazem parte de uma lógica da co-habitação conservadora, assim como a CEEE e o Banrisul podem ser nichos para a locupletação de outras “famílias políticas” que lhe dão sustentação.

A Governadora, enfim, sempre foi elogios e condescendências para com “os seus”, ficando devendo respostas claras e incontroversas para a sociedade. Ao invés, a Governadora atinge o mais alto nível de delírio [pra não dizer autismo, em respeito às pessoas portadoras de sofrimento psíquico] e, com a soberba e mentiras peculiares, alega conspiração contra seu governo. Busca desesperadamente nacionalizar o debate para trazer a conhecida histeria tucana se voltar contra Lula e assim desviar o foco de sua tragédia.

A Governadora Yeda Crusius, cuja ausência de condições políticas e morais compromete o futuro econômico e político do Rio Grande, com o pânico e despreparo de suas reações também revela incapacidade subjetiva e comportamental. A lástima com a situação do Estado só se faz aumentar.

80 anos del Comandante, el Che Guevara

Em artigo publicado no Página12, o intelectual argentino Atílio Borón acentua a dimensão teórica e histórica do Che para a atualização do marxista e do socialismo, ademais dos notórios predicados humanos e revolucionários que ele nos legou, exemplares até a eternidade.

Atílio vem pondo acento nesta dimensão da trajetória do Che desde a muito tempo, destacando suas teorias e previsões, muitas das quais se confirmaram - para citar uma importante: a queda da URSS em razão dos equívocos cometidos internamente e no plano externo.

Muito se enaltece das qualidades deste que é um exemplo de homem, de revolucionário e de dedicação infatigável ao socialismo, o que é indiscutível. A análise de Atílio Borón, contudo, faz engrandecer a condição de personagem da história e da luta libertária que foi o Che.

Ler o artigo do Atílio ...

A ilustração é do cubano Orlando Hernández Yanes, membro da Asociacion Internacional de Artes Plásticas [AIAP] de Cuba.