As confissões de Cézar Busatto na conversa gravada pelo [Vice-]Governador Paulo Feijó formam uma tese e condensam várias práticas e lógicas. A tese é: há intencionalidade e consciência do governo e da governadora Yeda Crusius na conversão do Estado em “capitanias hereditárias” divisíveis entre as “famílias políticas”, que o dominam de maneira corrupta.
As práticas e lógicas derivadas de tal tese são o que acontece no Detran, na CEEE, no Banrisul, no loteamento de cargos públicos, no tráfico de influências, na promiscuidade com empresas, etc.
As confissões de Cézar Busatto, que é o Chefe da Casa Civil, estocam definitivamente a crise no andar mais alto do governo estadual. São confissões que confirmam que o modus operandi [dos “elementos”] do governo se fundamenta na corrupção compartilhada. É assim que garantem o modus vivendi - citação latim do Busatto nas conversas com Feijó – entre as diferentes “famílias políticas”.
A situação da governadora é irremediavelmente grave. Além dos aspectos materiais, documentais e objetivos que permitem responsabilizar Yeda, subjetivamente a imagem que se consolida é de debilitamento político e fragilização que lhe retira crescentemente a capacidade de continuar governando. O impeachement passa a ser uma agenda hiper-realista.
Antes faziam com o DAER, Busatto?
Dentre as confissões, Busatto ilustrou ao [Vice-]Governador Paulo Feijó que antes do Detran e do Banrisul, o DAER era o alvo das pilantrices.
Busatto supostamente se refere ao modus operandi que adotavam no DAER durante o governo Britto.
Isso tudo – a lambança e colapso geral da política gaúcha – trazem a desafiadora curiosidade de saber o quê esta turma que ocupa o noticiário policial hoje não deve ter feito durante o famigerado governo Britto. A turma [os “elementos”] é a mesma, com a diferença que naquela época a Polícia Federal era amordaçada e partidarizada pelo governo tucano-pefelento de FHC.
Esquizofrenia
O governo estadual, governadora Yeda à frente, quando não enfia a cabeça num buraco em profunda depressão e entra em coma silenciosa, se manifesta e revela uma esquizofrenia primária. Age como a pessoa desesperada que, diante da notícia dada pelo médico de que possui câncer, quer matar o médico ao invés de combater a doença: atacam a imprensa, a CPI, a oposição e todos que se escandalizam com as barbaridades cometidas pelos “elementos” do governo.
Respingos municipais da crise estadual
A conjuntura eleitoral, em princípio, fica alterada em favor do PT na eleição de Porto Alegre. As candidaturas de Fogaça e da Manuela ficam abaladas com as confissões de Busatto.
O ex-Secretário de Governança Solidária de Fogaça poderá ter de explanar o modus operandi que aplicava para garantir o modus vivendi de um partido chiquitito [PPS] com o condomínio partidário conservador que fatiou a prefeitura em muitos interesses.
Busatto, apesar de ser favorável à coligação do PPS com o Fogaça, é correligionário de Berfran Rosado, o neo-socialista candidato a vice de Manuela que com Busatto compartilhava do modus operandi no DAER na época do Britto.
De todos os modus, faltou modos
De todos os modus – operandi ou vivendi -, a verdade é que o habitus da turma revelou uma total falta de modos com a coisa pública. É uma indecência.