quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Em lugar duma personagem, um caso psiquiátrico

A governadora Yeda Crusius faz o gênero de pessoas cujas atitudes, manifestações, falas, olhares e trejeitos surpreendem e intrigam. Do gestual à fala, Yeda é um tipo humano que atiça minha curiosidade, porque vejo-a como um exemplar revelador dessa vastidão que são as hipóteses humanas. Como dizia Schopenhauer, “quanto mais conheço os homens, mais aprecio os cães”.

Ouvindo-a a pouco no programa Atualidade da Rádio Gaúcha, me inclino a crer que a governadora não pode ser observada e “escutada” estritamente desde a perspectiva da política. Ela é oceânica na produção de sinais e sintomas que fazem-na freqüentar o ambiente interpretativo da psicanálise e psiquiatria. Seria como estar-se frente a um “caso psiquiátrico”, com todos os traços característicos de esquizofrenia – com todo o respeito e solidariedade às pessoas portadoras desse sofrimento psíquico.

Alguém que sofresse a derrota contundente como a que ela sofreu ontem na Assembléia Legislativa, trataria de postar-se com humildade, respeito e disposição ao diálogo. Alguém sim, mas não Yeda, a governadora. Ela fala e observa os fatos desde um lugar sui generis, e a partir daí se concede o direito de, com a máxima soberba, fazer extrapolações que seriam consideradas perigosas e imprudentes por pessoas centradas.

No que depender da verve da governadora, a auto-proclamada “heroína gaúcha Anita Garibaldi do século 21, os tempos vindouros serão de mais crise e conflito político. Alguns comentários dela, que podem ser ouvidos na entrevista concedida à Rádio Gaúcha [que pode ser ouvida no saite da rádio só até a manhã de amanhã]:

1] com sua voz habitualmente em tom odioso contra parlamentares e partidos de oposição e a todos aqueles que dela discordam, se disse surpresa com a “atitude” da Assembléia Legislativa de votar ontem mesmo o pacote. A oposição [PT, PCdoB, PSB e PDT] tem somente 18 votos, e a derrota sofrida contou com pelo menos 16 votos de parlamentares do DEM [do vice-governador], do PP, do PTB, do PPS e do PMDB [que ocupam várias Secretarias de Estado];

2] declara-se cumpridora tanto [1] do pacto pelo Rio Grande [sic], quanto [2] dos compromissos da campanha eleitoral [sic sic]. Quem não cumpriu sua parte foi a ALERGS, ao rejeitar as propostas que traduziam estes dois compromissos cumpridos.

3] entende que a derrota não é dela e do governo, mas sim daqueles que não aprovaram o pacote [sic]. Os que agiram contra – deputados, empresários, funcionários públicos e trabalhadores – são os principais derrotados, e têm a responsabilidade sobre a situação do Estado. Neste particular a governadora dá sinais de não ter sido a eleita!;

4] Yeda insiste em que está cumprindo as promessas de campanha;

5] se insurge ao que caracteriza como “ataque federal às instituições gaúchas”. Talvez neste momento o “espírito de Anita” tenha se apossado da governadora;

6] diz, em função do sentimento anterior, que “vamos a Brasília para dizer ‘não se metam aqui’ retornem um pouquinho do imposto que recolhem aqui”. De novo ela parece ter tido um súbito ataque farroupilha. Compreensível, hoje se comemora a Proclamação da República.

A nota oficial do governo gaúcho, publicada nos jornais de hoje, vai na mesma toada.

Fica a lembrança de que em Porto Alegre tem plantão psiquiátrico no Centro de Saúde Vila dos Comerciários, Hospital Espírita, Clínica Pinel e Casa São José. Ainda atendem pelo SUS, enquanto não forem destruídos pelo governo Yeda.

A derrota da empulhação

Com a reprovação do pacote de medidas opostas a tudo o que prometeu nas eleições para se eleger, a governadora Yeda Crusius amargou uma derrota que não é só política, mas tem o sentido de uma reprovação também moral. Moral no sentido do bom habitus político, da antítese da desfaçatez e da quebra de confiança, da oposição à mentira e à empulhação; e não no sentido de uma moralidade corriqueira, da simples repreensão pudica de atitudes e comportamentos.

Ainda que o principal argumento racional no debate público contra o pacote tenha sido a recusa do aumento puro e simples de impostos como remédio para o enfrentamento a crítica situação das finanças públicas gaúchas, a derrota da governadora tem o valor de um recado de que política é coisa digna e deve ser feita com verdade.

Nas eleições passadas, para se eleger a governadora fez uma campanha falsa e diversionista. Iludiu o povo com o mantra abstrato do tal “novo jeito de governar”, mistificou a realidade a ponto de se comparar com a “Anita Garibaldi do século 21, mentiu mais que o Britto costuma mentir, prometendo facilidades que obviamente não poderia cumprir no governo, e ocultou sua vocação privatista e de destruição do Estado e das políticas sociais. A derrota do governo, portanto, é um eloqüente ensinamento de que alguém até pode se eleger na base da mentira, mas governar a partir de bases falsas é muito difícil.

O resultado de ontem é o epitáfio do “primeiro ano político útil” da governadora. Ano que contabiliza resultados muito semelhantes no início e no fim: derrota legislativa na tentativa de aprovar pacote com medidas que nas eleições jurou não aplicar; coleção de conflitos políticos e institucionais por todos os lados; crise de sustentação do governo com provável demissões no secretariado; e impressionante quebra da capacidade de interlocução política.

O governo Yeda Crusius tem todas as características de que poderá melancolizar. É um governo que a cada iniciativa política não renova, mas se esclerosa; envelhece ainda mais. E se persistir o comportamento crispado e arrogante de seus integrantes – a começar pela própria governadora – em breve tempo o governo economizará nos gastos com compras de café, porque serão escassas as visitas que o Piratini receberá.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Carta de Jon Lee Anderson para “repórter” da Veja

Jon Lee Anderson, autor de Che Guevara – Uma biografia [Editora Objetiva, uma belíssima biografia], enviou a carta adiante reproduzida [já traduzida ao português] ao “repórter” Diogo Schelp, da Veja, autor da “reportagem” infame sobre Che Guevara, publicada pela “revista” em outubro passado:


Caro Diogo,

Fiquei intrigado quando você não me procurou após eu responder seu e-mail. Aí me passaram sua reportagem em Veja, que foi a mais parcial análise de uma figura política contemporânea que li em muito tempo. Foi justamente este tipo de reportagem hipereditorializada, ou uma hagiografia ou — como é o seu caso — uma demonização, que me fizeram escrever a biografia de Che. Tentei por pele e osso na figura supermitificada de Che para compreender que tipo de pessoa ele foi. O que você escreveu foi um texto opinativo camuflado de jornalismo imparcial, coisa que evidentemente não é.


Jornalismo honesto, pelos meus critérios, envolve fontes variadas e perspectivas múltiplas, uma tentativa de compreender a pessoa sobre quem se escreve no contexto em que viveu com o objetivo de educar seus leitores com ao menos um esforço de objetividade. O que você fez com Che é o equivalente a escrever sobre George W. Bush utilizando apenas o que lhe disseram Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad para sustentar seu ponto de vista.


No fim das contas, estou feliz que você não tenha me entrevistado. Eu teria falado em boa-fé imaginando, equivocadamente, que você se tratava de um jornalista sério, um companheiro de profissão honesto. Ao presumir isto, eu estaria errado. Esteja à vontade para publicar esta carta em Veja, se for seu desejo.


Cordialmente,


Jon Lee Anderson.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Conselho Internacional discute passos do Fórum Social Mundial

A semana de mobilização e ação global que irá marcar o Fórum Social Mundial em janeiro de 2008 começou a ganhar forma depois da reunião do Conselho Internacional, que aconteceu na última semana de outubro, na cidade de Belém (PA). Mais de 100 representantes de movimentos e entidades vindos de quatro continentes traçaram estratégias e discutiram as articulações locais e globais para o próximo FSM. Ao contrário das edições anteriores, o Fórum Social Mundial de 2008 não terá eventos centralizados, mas será composto por milhares de atividades organizadas por movimentos, grupos, redes e entidades em seus locais de atuação, ...

Ler toda a informação divulgada pelo escritório brasileiro do FSM ...