sexta-feira, 10 de agosto de 2007

A injustiça vale milhão de vezes a mais

Ubirajara Macalão, ex-integrante do PTB que como Diretor de Serviços Administrativos da Assembléia Legislativa gaúcha foi responsável pelo desfalque de R$ 3,3 milhões só com o desvio de selos, continua solto. Isso apesar de:
- terem contra si provas documentais e materiais do roubo praticado contra o erário;
- não gozar do instituto da delação premiada e de não colaborar com as investigações;
- continuar escondendo a destinação dada à dinheirama roubada;
- continuar escondendo os demais envolvidos dentro e fora do Parlamento;

- ter sido flagrado com quase 200 mil reais em selos enterrados ao lado da piscina da casa de praia.

A sorte de Macalão é não ter nascido mulher, negra, pobre e batizada Angélica Aparecida de Souza Teodoro [ler mais]. Vale lembrar: Angélica ficou encarcerada numa cela fétida do Cadeião Pinheiros, na capital paulista devido à tentativa de furto de um pote de margarina de valor de R$ 3,20. Pelo tenebroso crime, cometido num momento de desespero, pois, "não agüentava ver o filho de dois anos passar fome", ela ficou no xilindró por quatro meses, teve um hábeas corpus negado e só conquistou a liberdade com o segundo hábeas corpus impetrado no STF!

O azar de Angélica é não ter nascido macho, branca, filiada ao PTB, não ter emprego na Assembléia e não ter roubado R$ 3,3 milhões para locupletar a si mesmo e a integrantes de quadrilha, ao invés de se preocupar com a fome do filho.

A cruel matemática da divisão de classes sociais é exata: a tentativa de furto de uma margarina de R$ 3,20 para aplacar a fome do filho faminto valeu a condenação de quatro anos de xilindró para Angélica, enquanto o roubo de R$ 3.300.000,00 de dinheiro público garante a Macalão o mais amplo direito de defesa. Em liberdade. Essa situação cria uma nojenta sensação de que a Injustiça vale 1 milhão de vezes mais que a Justiça.

Mau presságio

Antonio Britto, necrológio que coleciona mortes e destruições na biografia, assumirá a presidência do Conselho de Administração do grupo Amazonas de Franca/SP, que produz componentes para calçados.

Por onde passou, Britto não deixou pedra sobre pedra.

Seria porta-voz de Tancredo após a eleição da raposa mineira no colégio eleitoral em 1985. Em lugar disso, noticiou a morte do homem.

Foi ministro da Previdência de Itamar. Milhares de velhinhos já morreram sem conhecer a cor do que ele prometeu mas nunca entregou.

Foi governador do Rio Grande e devastou a economia gaúcha, as estruturas estatais, as finanças públicas, o funcionalismo e as políticas sociais. Por algumas gerações os gaúchos pagarão o preço dos seus desatinos.

Foi presidente do Conselho de Administração da Azaléia, e a empresa fechou fábricas e destruiu mais de 6 mil empregos no rio Grande.

Tentou ser presidente da Copesul pelo consórcio Petrobrás/Brasken que adquiriu o Grupo Ipiranga. Não levou porque o governo federal vetou o nome dele.

Tentou ser pre$idente indicado do Grêmio, mas a chiadeira entre os gremistas foi tamanha que o presidente do Grêmio e patrono da idéia, o deputado Paulo Odone teve de desistir da indicação.

Mau presságio para o grupo Amazonas.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

A notícia órfã

Luis Nassif

Ontem o Ali Kamel publicou uma coluna na página de Opinião do "Globo", "A grande imprensa".
Sobre a cobertura do acidente da TAM, Kamel se defende: "A grande imprensa se portou como devia. Como não é pitonisa, como não é adivinha, desde o primeiro instante foi, honestamente, testando hipóteses, montando um quebra-cabeça que está longe do fim".
"Testando hipóteses" é outro nome para falta de discernimento. Em qualquer cobertura competente, enquanto o quadro não está claro montam-se cenários de investigação, análise de probabilidade, linhas de investigação. Evitam-se afirmações peremptórias, e apela-se para a criatividade para produzir manchetes de impacto sem recorrer conclusões taxativas.
De cara, se poderiam alinhavar várias possibilidades para o acidente da TAM, que seriam o ponto de partida. Toda a cobertura seguiria esse roteiro, procurando checar a probabilidade de ocorrência de cada possibilidade ou delas combinadas. A partir daí, o Sr Fato se incumbiria de descartar algumas hipóteses e reforçar outras.
O "testando hipóteses" do Kamel consistia em bancar aposta total na Hipótese A. Dias depois, esquecer a Hipótese A e bancar toda a aposta na Hipótese B. Depois, na Hipótese C, até acertar Mas não houve acerto. A resposta final – a degravação dos diálogos na cabine – eliminou todas as hipóteses anteriores.
E aí se entra no modelo de gestão da notícia adotado pelas Organizações Globo. De alguns anos para cá resolveu-se homogeneizar o entendimentos dos jornalistas em relação aos temas de cobertura. Esse papel doutrinário coube a Kamel.
Não sei qual é a experiência de Kamel no front da reportagem. Mas foram dois os resultados. Primeiro, acabou-se com a diversidade de enfoques, marca de jornalismo plural. Segundo, perdeu-se o sentimento da rua, o sentido da reportagem. Os repórteres passaram a subordinar a cobertura aos desígnios do "aquário". Houve um divórcio dos pais – o "pai" "aquário" e a mãe reportagem – e o resultado deixou a notícia órfã.
Nem vale a pena comentar as acusações generalizantes e conspiratórias de Kamel, na seqüencia do artigo, contra os críticos da cobertura. Ele não está escrevendo para os leitores. Apenas se justificando para os donos da empresa.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Reforma política ou cosmética?

Frei Betto

Salvo honrosas exceções, eleger-se a uma função pública virou, neste país, meio de vida. Adquire-se status, posa-se de autoridade, reveste-se de imunidade, amplia-se o patrimônio pessoal, cerca-se de bajuladores...

Há quem procure escapar das malhas da Justiça elegendo-se deputado ou senador, que injustamente tem direito a foro privilegiado quando sob acusação. E não se conhece um único caso de condenação pelo Supremo Tribunal Federal.
Ler mais ...

Macalão saiu barato

Fosse alguma pessoa com parentesco de décimo-oitavo grau com um petista que tivesse patrocinado as falcatruas que Ubirajara Macalão praticou na Assembléia Legislativa e a cobertura da mídia seria implacável contra o PT. Exauriria o PT numa hemorragia contínua.
Mas, como o ânimus moralizante da mídia anti-petista é seletivo, deu-se que Macalão saiu muito barato para o PTB. Custou quase nada. Ficou a preço de banana.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A rebelião dos pobres: Lula e as pesquisas

Jeferson Miola

As pesquisas de opinião têm reiterado resultados muito positivos de avaliação do governo Lula mesmo após a exploração macabra de acontecimentos. Fosse o caso de governo sem autoridade política e carente de identificação no imaginário popular e estaria seriamente abalado com os ataques desencadeados.

Por mais que a mídia golpista e a oposição de direita se esforcem em manipular a interpretação dos resultados da pesquisa Datafolha do último 02/08, o fato é que nem a monumental orquestração golpista feita a partir da tragédia com o avião da TAM conseguiu abalar a popularidade do presidente Lula.

Com 48% de avaliação ótima/boa, 36% regular [portanto 84% favorável] e apenas 15% de ruim/péssima, Lula supera até mesmo a avaliação que tinha no início do primeiro mandato, quando as expectativas em torno do seu governo eram as melhores que qualquer presidente do país já tivera. Vale recordar que em abril de 2003, o mesmo Datafolha detectou 43% de ótimo/bom, 40% de regular e apenas 10% de ruim/péssimo.

Até mesmo no extrato de entrevistados que viajam de avião e que correspondem a 8% da amostra do Datafolha, o resultado pró-Lula é insofismável, apesar dos sofismas da mídia em sentido contrário: as opiniões positivas perfazem 67% [29% ótima/boa e 38% regular] contra 30% que consideram-no ruim/péssimo. Deve-se sublinhar que esses resultados parciais foram detectados junto a um segmento direta e persistentemente massacrado com uma cobertura manipulada e editorializada do acidente e que só visou culpabilizar o governo.

Apesar desses resultados, a mídia golpista insiste na tese do desgaste do governo. É aceitável ter havido algum dano na imagem do governo e do presidente Lula, porém não a ponto de apresentar fissuras na identidade e na relação de confiança mantidas com a ampla maioria da população que o apóia. A pesquisa tampouco demonstra haver quaisquer sinais de deslocamento de bases sociais de apoio do governo e do presidente Lula em benefício do bloco oposicionista de direita.

Visto por um ângulo menos factual dos acontecimentos, arriscaria dizer que o comportamento da maioria pobre e sem-mídia do Brasil produziu o "Lulismo", um fenômeno acima e à parte do próprio PT e dos demais partidos e que se orienta pela identificação direta e pessoal da figura do Lula com as amplas camadas sociais que emergiram à vida civil devido às políticas públicas postas em marcha no seu governo.

São as políticas públicas de inclusão social e de afirmação de direitos que politizam parcelas imensas da sociedade brasileira principalmente no nordeste e norte brasileiros a partir das ações de cidadania como o Bolsa-Família e outros. A retribuição popular a Lula se concretiza através do apoio entusiasmado e relativamente incondicional, insuscetível a manobras difamatórias e golpistas. A classe dominante sabe que já não manda na opinião da sua empregada doméstica, e isso a irrita profundamente. Os pobres do Brasil felizmente estão deixando de ser escravos de consciência dos seus exploradores.

O “Lulismo” está para o Brasil do século 21 como o “getulismo” esteve no século passado. Ou como o “peronismo” argentino. São fenômenos de liderança e de carisma que atravessam os tempos em que se desenrolam. São fenômenos que costumam durar muito mais que a própria época de existência de seus personagens, que acabam eternizados como mitos.

Só por isso podem-se entender as motivações odiosas e preconceituosas da direita brasileira e da sua mídia golpista. Aproveitam inclusive a dor oriunda da tragédia do acidente aéreo para atingir o presidente Lula, assim como aproveitarão qualquer questão vil para tentarem atingi-lo mortalmente. Não se conformam com a derrota eleitoral e reviram-se em tentativas de manter o país num clima permanente de terceiro, quarto, quinto turno eleitoral.

Lula confia na capacidade de estancar o golpismo da direita com o “Lulismo”. Só é uma pena Lula não governar com setores partidários historicamente identificados com a origem do “Lulismo”, deixando de integrar ao seu governo aqueles que, na primeira ocasião de conflito essencial de interesses, o abandonarão.

Como diz o ditado, “não devemos pedir água a quem quer beber nosso sangue”. A indistinção político-partidária, inclusive, é causa essencial da degeneração sofrida pelo PT e das limitações programáticas que impedem o governo de avançar mais do que conseguiu até agora.