sábado, 23 de junho de 2007

Inéditos de Frida Kahlo e Diego Rivera, 2ª menção

O acervo “secreto” de Frida Kahlo e Diego Rivera, que reúne o arquivo íntimo dos dois pintores, ficou quase meio século guardado em um quarto secreto mandado construir por ambos na Casa Azul de Coyoacán, no México, onde residiram. [clicar para ler 1ª menção de BiruTaDoSuL sobre esse assunto]

No próximo 06 de julho inicia a exposição do arquivo íntimo que reúne 22.105 peças, dentre documentos pessoais, livros, vestuários, fotografias, auto-retratos, quadros, desenhos preliminares, rascunhos, lançamentos de obras, livros de projetos, planos, anotações, correspondências, impressos, publicações, etc.

As imagens são uma pequena mostra do “oceano” descoberto de Frida e Diego Rivera, obtidas no LaJornada.

Resistência argentina à ditadura transformada em "Memória do Mundo”

Enquanto no Brasil a promoção póstuma do Capitão Carlos Lamarca ao posto de Coronel causou tanto celeuma, a Argentina dá mais um passo na reconciliação com a verdade histórica e a justiça. É que lá, assim como em vários outros países que agem diferentemente do Brasil nesta questão, anistia não significou amnésia.

A Argentina acaba de transformar o amplo acervo documental que abrange o período sanguinário de 1976 a 1983 em MEMÓRIA DO MUNDO, um reconhecimento outorgado pela UNESCO que equivale ao status de patrimônio da humanidade. “É uma distinção à luta dos organismos de direitos humanos e à responsabilidade e compromisso do Estado pela defesa da memória”, declarou a ativista de direitos humanos Graciela Karababikian.

O programa Memória do Mundo foi criado pela UNESCO em 1992. De acordo com a instituição, “baseia no suposto de que alguns elementos, coleções ou fundos de patrimônio documental formam parte do patrimônio mundial, à semelhança dos sítios de notável valor universal incluídos na lista de Patrimônio Mundial da UNESCO. Se considera que sua importância transcende os limites do tempo e das distintas culturas, e que devem preservar-se para as gerações atuais e futuras e postos de alguma forma à disposição do todos os povos do mundo”.

O povo argentino, através de várias organizações sociais, principalmente das Madres y Abuelas de la Plaza de Mayo, nunca permitiu apagar da memória os trágicos anos da ditadura daquele país. Das medidas adotadas pelo governo Kirchner, devem ser destacadas justamente aquelas que colocaram fim ao princípio da “obediência devida” e retomaram os julgamentos dos militares assassinos.

Passo adiante na Argentina e em outros países não estimula atitudes semelhantes no Brasil. A histeria em torno da condecoração póstuma do Lamarca, além de cínica, se apega em mentiras históricas e falsifica a biografia e história dele.

diZerEs de camInHão

Flagrado no apara-lama de caminhão de pizza que se dirigia do estado de Newada [de neve, geladeira], EUA, para as Brasília [da fantasia, Brasil] para repor suprimento no Congresso Nacional:

Mais corporativo que Bill Gates, só deputados e senadores do Brasil.

Reveladas ações criminosas e ilegais da CIA de 1950 a 1970

Muitos documentos secretos da CIA [agência de inteligência, a “KGB” dos Estados Unidos] relativos aos anos 1950 a 1970, serão abertos e liberados. Tais documentos são conhecidos como “jóias da família”, e reportam ações de espionagem, seqüestros, infiltração de agentes, atentados, conspirações e toda a série de ilegalidades praticadas pela CIA no período.

Com a revelação dos documentos, finalmente são comprovadas as suspeitas de participação da CIA em crimes cometidos em várias partes do mundo. Nos últimos dias, alguns desses documentos vazaram, e então foram revelados planos para o assassinato de Fidel Castro e o congolês Patrice Lumumba e até a interceptação de quatro cartas da atriz Jane Fonda que à época foi uma importante ativista contra a Guerra do Vietnã.

Outros documentos, contudo, parecem ter sido sumidos, como é o caso do golpe no Chile. Segundo memorando de Henry Kissinguer de 1975, quando era Secretário de Estado dos Estados Unidos [a Condolezza Rice daquela época], “A coisa chilena não está em relatório algum” [assim mesmo: “coisa chilena”].

Longe de parecer alentador, estas revelações só confirmam a veracidade das ações criminosas de governos estadudinenses que sucessivamente autorizam a atuação criminosa da CIA para impor sua dominação imperial no mundo. O mundo ainda aguarda a abertura das “caixas pretas” de documentos dos anos 1980 até os dias atuais, onde o controle “orweliano” do império é cada vez mais assustador.

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A propósito, vale ver o filme “O bom pastor”, dirigido e atuado por Robert de Niro e atuação de Angeline Jolie, Matt Damon, que retrata a devoção de um agente da CIA [contracenado por Matt Damon] na tentativa de invasão de Cuba, em 1961.

Sob o signo de brigas, confusões, desentendimentos ...

Mesmo o que poderia parecer altruísmo e virtuosidade se transforma em crispação quando se trata da governadora Yeda. A governadora parece dotada de uma capacidade peculiar de permanentemente gerar crises, desunião e crispas em todas as relações de governo.

Isso aconteceu outra vez nesta semana quando recusou aumentar o seu próprio salário e o do secretariado estadual. A proposta de aumento constava do projeto da Assembléia Legislativa que reajusta os salários dos deputados estaduais, e isso só seria possível com a anuência do Palácio Piratini ou de alguém por lá autorizado. Talvez por avaliar as reações desfavoráveis à medida, Yeda posteriormente desautorizou a inclusão do aumento no projeto da Assembléia, não sem acusar o Legislativo da autoria da proposta. A imputação é no mínimo absurda, para não dizer-se desleal para com outro Poder.

Yeda, desse modo e por essas todas, sedimentando seu “novo jeito de governar”, sob o signo das brigas, confusões, conflitos, desentendimentos ....

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ET: é opinião do BiruTaDoSul que os salários da governadora e dos secretários estaduais estão muito defasados e precisam ser reajustados. Desse ponto de vista, seria correta a manutenção da proposta de reajustamento no projeto da Assembléia.

Pochmann vê sinais de “esclerose econômica” no Brasil

Mesmo com a relativa ampliação do tamanho do Produto Interno Bruto (PIB), não é possível considerar que a economia nacional tenha abandonado a sua trajetória de mais de um quarto de século de semi-estagnação produtiva. Além disso, o país não consegue abandonar o bloco de economias subdesenvolvidas, com PIB per capita situado na 85ª posição do ranking mundial.

De um lado, percebe-se que a comparação do PIB de 2005 com o de 2000 indica a prevalência de uma ridícula variação média de apenas 2,7% ao ano. De outro, constata-se a presença de sinais não desprezíveis de esclerose econômica precoce assentada justamente no baixo comportamento dos investimentos.”

A análise completa do economista e professor da Unicamp Márcio Pochmann pode ser lida no Brasil de Fato, com uma simples apertadinha aqui.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

O Bloco de Esquerda e os desdobramentos para PT gaúcho

Ontem foi lançado o “Programa Comum” do setor político-parlamentar que une PCdoB, PSB e PDT, denominado “Bloco de Esquerda”. Mesmo sendo declaradamente base de sustentação do governo Lula e das políticas sociais em andamento, o Bloco de Esquerda buscará consolidar a unidade entre os três partidos e ampliar o cacife político-eleitoral nas eleições municipais do próximo ano com independência do principal ex-aliado, o PT.

Diz um trecho do Programa: “No momento oportuno em que estará na ordem do dia os entendimentos sobre o próximo pleito de 2008, os Partidos que compõem o Bloco, resguardado suas autonomias na constituição das frentes eleitorais, darão prioridade nesse momento à realização de alianças entre eles”.

Nos principais centros urbanos do país onde possuir candidaturas densas eleitoralmente o Bloco não hesitará em lançá-las, inclusive em competição com o campo eleitoral organizado em torno do PT. Tanto o PCdoB quanto o PSB vêm revelando quadros políticos com potenciais senão de vitórias eleitorais, ao menos de grande contribuição para a construção partidária e social das respectivas agremiações.

Não por outra razão a pré-candidatura da deputada federal Manuela D´Ávila freqüenta naturalmente o tabuleiro das eleições em Porto Alegre em 2008. Vinda de uma esplêndida votação para deputada federal – quase 5% dos votos do eleitorado gaúcho -, sendo uma jovem mulher com grande carisma, poderá ter uma performance surpreendente na eleição da capital gaúcha.

Para o PT é fundamental e absolutamente prioritário recuperar Porto Alegre na futura eleição, como parte da restauração da capacidade de disputa hegemônica na sociedade gaúcha, abalada por sucessivas derrotas eleitorais.

Por isso, o PT deveria desde logo – se é que já não o vem fazendo – a par de assegurar a unidade na escolha da sua candidatura, aprofundar as condições que permitam a manutenção da Frente Popular nas próximas eleições, garantindo a parceria com o Bloco de Esquerda e um lugar para a deputada Manuela na chapa majoritária.

Frente ao desgaste dos governos conservadores dos principais centros políticos e econômicos do Rio Grande do Sul – Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas e Canoas – é imperativo a constituição de alianças da esquerda gaúcha para avançar em direção à retomada de um projeto democrático-popular no Estado em 2010. O próximo ano é determinante para que essa exigência se torne realidade.

E no Boca não vai nada?

Até certa circunstância imperava reserva e complascência diante das dificuldades que nem seriam intransponíveis para um time acostumado a grandes epopéias.

Mas sob desfecho tão cabalístico [para não dizer vexatório], o escracho é inevitável. Diante de cinqüenta mil almas, levar uma enfiada de cinco do Boca, que foi cinco vezes campeão da Libertadores sem fazer um golzinho sequer, é demais. Lá no interior, na eventualidade de qualquer goleada, o fundamental era fazer o chamado gol de honra”, mas nem isso conseguiram! Só levaram. E muitos gols. Foram três na bombonera + dois na sede que fica ao lado do cemitério João 23 [Ai que vergonha dos argentinos só de imaginar as gozações e a charge do Quino no Página12 amanhã!].

Ao tricolor, RIQUELMEMENTE derrotado, não resta outra coisa senão voltar à rotina – ou ao próprio karma - de campeonatos sub-nacionais [aqui conhecidos como certame Gauchão] e segunda divisão de campeonatos nacionais. Enfim, tudo volta ao estado normal, de onde acidentalmente escapou por escassa temporada.


E, em definitivo, valem as máximas que dizem que “imortal é aquele que fica perto do cemitério” e “imortal, só a Dercy Gonçalves”.

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O blógue Nuestro Vino apresenta dois exemplares de imortais, veja lá.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Danny Glover, um hollywoodiano contra Bush e a grande mídia

Com Danny Glover não existem formalidades, nem poses de estrela. Está como poderia estar qualquer um de nós - com jeans e um boné, só e meio perdido a um passo do Teatro Teresa Carreño, em Caracas. E simplesmente sorri e diz ‘sim’ quando lhe peço esta entrevista.

Confira a entrevista do ator e diretor Danny Glover feita pela jornalista cubana Rosa Miriam Elizalde, em Caracas, publicada no Vermelho, o saite do PCdoB.

Ministério Público se equipara ao Supremo

O Ministério Público do Brasil se auto-concedeu um novo valor de teto salarial, que passa do atual R$ 22.211 para R$ 24.500 – valor do salário de Ministro do Supremo. Desse modo, diminui o número de procuradores e promotores públicos que ganhavam acima do teto, o que é ilegal. Eles são o máximo!

A coisa funciona assim: quando os privilégios ficam fora ou acima da lei, aumentam-se os privilégios para caberem dentro das leis criadas para protegerem os privilegiados.

E tem mais: nada de realizar a reforma do judiciário com controle social.

STF não é o mesmo: agora pune indumentária de político

O STF definitivamente mudou. Agora não atua só contra os simples mortais, mas pune também no mundo político.

Não pune parlamentares, mas a indumentária usada por alguns políticos. Num julgamento inusitadamente rápido e exemplar, o STF condenou um chapéu de boiadeiro a não fazer parte da indumentária usada por um exótico parlamentar durante as sessões na Câmara dos Deputados. O STF cassou o chapéu do boiadeiro!

Nesse ritmo, não tardará a hora da cassação de bombachas usadas por pitoresco deputado gaúcho.

Por essas e outras barbaridades – inclusive devido à corrupção que atingiu também o Poder Judiciário – fica cada vez mais difícil não admitir a idéia de que está na ordem do dia a criação de um amplo movimento cívico nacional do tipo “mãos limpas” no Brasil.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Habemus Confúncio no Planalto

E não é que Mangabeira Unger, o Ministro de Dantas, foi confirmado como Confúncio do Planalto? Isso apesar de todas as evidências que recomendariam ao Presidente Lula não nomeá-lo.

O Presidente, assim, adere mais um problema à agenda política já tumultuada. Além de passar a conviver com o constrangimento [para lá de alertado] de ter dentre sua equipe alguém vinculado ao sinistro banqueiro Daniel Dantas e que com cuja verve raivosa em tempos não muito distantes pediu o impeachment do Lula - no melhor estilo lacerdista dos tucanos e demos.

Assim, o Confúncio - que quase foi Ministro SeALOPRA - finalmente foi confirmado como Ministro SePLÉGICO [Secretaria de Planejamento Estratégico]. Ufa!
Levou abracinho do Presidente e retribuiu com os olhinhos fechados e reflexivos, como é do habitus de todo nobre filósofo e pensador.

Israel e Estados Unidos fazem da Palestina a nova Bósnia

Jeferson Miola

Israel, Estados Unidos e Europa mudaram radicalmente em relação à Palestina desde que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas da Fatah, destituiu o primeiro-ministro Ismail Haniyeh, que pertence ao movimento Hamás.

A partir do último domingo 17/06 foi suspenso o boicote e levantadas as restrições econômicas criminosas impostas por Israel, Estados Unidos e Europa à Palestina, que vigiam desde que o Hamás obteve pelo voto direto e democrático do povo palestino a maioria parlamentar e o cargo de Primeiro-Ministro.

As cadeias monopolistas de notícias passaram então a difundir imagens “humanitárias” de descarregamento de remédios, alimentos e combustíveis e a volta da assistência internacional nos territórios palestinos, somente possível graças à “retomada da ajuda” de Israel, Estados Unidos e Europa à Palestina agora “livre dos radicais terroristas do Hamás”.

A conspiração armada por Israel e EU contra o povo palestino desde janeiro de 2006 não se restringiu ao boicote econômico e ao corte da assistência estabelecida pela ONU, mas compreendeu também o engendramento de ações políticas e militares deliberadas. Militantes do Fatah e segmentos palestinos aliado aos Estados Unidos foram armados e apoiados financeira e materialmente para combaterem o governo do Hamás.

Israel e Estados Unidos fortalecem facções internas na Palestina para assim promoverem a guerra civil palestina; uma verdadeira guerra tribal de destruição sangrenta de palestinos feita pelos próprios palestinos.

Essa política é genocida! E os objetivos dessa política genocida são claros. Com o aprofundamento da devastação de um país já devastado pela guerra permanente promovida contra si por Israel e com o debilitamento político e militar dos setores que se opõem à capitulação e à corrupção do Fatah, fica mais distante do horizonte a construção do Estado Palestino e o enfrentamento aos interesses intervencionistas do imperialismo estadudinense em toda a região do Oriente Médio.

O mundo não pode continuar aceitando com a mesma naturalidade de sempre os acontecimentos na Palestina, cada vez mais transformada em protetorado dos Estados Unidos. A omissão frente à tragédia palestina é tão hedionda quanto à transformação da Palestina na Bósnia do século 21.


Não haverá paz duradoura no mundo enquanto subsistir o conflito no Oriente Médio. E não haverá sossego para as consciências humanistas e libertárias em todo o mundo enquanto não cessar o genocídio promovido contra o povo palestino por Israel e Estados Unidos.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

A chanchada no Senado e o calvário do Brasil

Dias atrás, no comentário Lula e o calvário do Renan Calheiros foi enfocada a hipotética contabilidade política do Presidente Lula em relação às agruras do Presidente do Senado.

De lá para cá aconteceram fatos patéticos, como [1] o telefonema da esposa do EpitáCio [não será EpitáFio ??] Cafeteira em plena sessão da Comissão de Ética pedindo que ficasse no cargo de relator do processo de absolvição do Renan, o [2] afastamento do mesmo EpitáCio [não será EpitáFio ??] do cargo por dez dias devido a problemas de saúde e [3] o bate-boca do advogado da mãe da filha de Renan com Senadores e a claque da Comissão de Ética.

Sem esquecer da correria do Renan para ajuntar às pressas nova papelada à sua defesa - de notas fiscais frias a folhas de cheques repetidas e outras engendrações próprias de falcatruas desse gênero.

Ah, e o monumental arreglo para salvá-lo ainda está de pé, em que pese algumas defecções, tanto na base do governo quanto na oposição.

Assistimos, nesses dias, a fatos vexatórios que envergonham o país, diminuem a autoridade e credibilidade das instituições de governo e de Estado e expõem a dimensão mesquinha que adquiriu a política nacional.

Fossem outros tempos e provavelmente os que hoje são ferrenhos socorristas do Renan – PeTistas à frente – estariam clamando por ética e defendendo uma investigação lisa e séria.

Fossem tempos em que não houvesse tamanha promiscuidade com empreiteiras e com o submundo dos negócios, a grita seria generalizada pela cassação do Renan.

Fossem outros os tempos e o Brasil estivesse como hoje, carcumido pela corrupção em todos os níveis e em todos os Poderes da República e teríamos em marcha no país campanhas cívicas do tipo “Brasil de mãos limpas” com a mesma significação que foram as campanhas das Diretas Já e Fora Collor.

Mas os tempos são definitivamente outros. Esses são tempos de outra política e de outra lógica, que para entender o Brasil o melhor seja mirá-lo de cabeça para baixo, porque a política está de ponta cabeça. Ou talvez esteja no lugar que a classe dominante sempre deixou, com a diferença que agora todos fazem parte desse baile, sendo que hoje os/as personagens dançam essa valsa com uma desenvoltura de deixar enrubescidos os mais pudicos e “antiquados”.

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A propósito de chanchadas, chuvas, cavalos, epitáFios e bailes, fica apensada a coluna de Carlos Heitor Cony, publicada na FSP de hoje:

CARLOS HEITOR CONY

Como tirar um cavalo da chuva

Ingredientes: um cavalo; uma chuva.

Modo de preparar: pega-se um cavalo que esteja na chuva e, usando de persuasão ou de força, obriga-se o animal a se dirigir a um lugar seco, onde deverá ficar até que a chuva passe.

Modo de usar: são inúmeras as vantagens de tirar um cavalo da chuva, qualquer cavalo, da chuva, de qualquer chuva. Chuva e cavalo podem se misturar, mas há que tomar cuidado para não prejudicar a natureza dos ingredientes, ficando o cavalo molhado demais e a chuva, que deveria fecundar o solo fazendo nascer o trigo e as flores do campo, ficar molhando inutilmente o cavalo, que não produz flores nem trigo.

Outro mérito de tirar o cavalo da chuva, sobretudo para quem não dispõe de um cavalo, mas está sujeito a chuvas e trovoadas, é fazer o que deve ser feito, ou seja, tirar o cavalo da chuva e, se possível, tirar-se a si mesmo da chuva.

Sabe-se que quem está na chuva é para ser molhado. Recomenda-se tirar o cavalo da chuva em ocasiões especiais, como votações no Congresso, prorrogações de medidas provisórias, reescalonamento de dívidas públicas, cargos e funções.

É preferível tirar o cavalo da chuva, mantendo-o enxuto, do que enxugá-lo depois de molhado. Em caso de dúvida, para saber se o cavalo está molhado ou não, aconselha-se um relatório do senador Epitácio Cafeteira.

Mas convém não exagerar e, a pretexto de enxugar o cavalo molhado pela chuva, enxugar os orçamentos da saúde, da educação, dos transportes, da segurança.

Como servir: com o cavalo tirado da chuva, pode-se fazer muita coisa ou nada fazer. Em ocasiões mais críticas, o melhor é montá-lo e partir indignado em todas as direções. (Esta crônica é dedicada a todos os cavalos que estão na chuva).

Privilégio

Privilégio é começar a semana na tranqueira do trânsito escutando Jorge Drexler e apreciando as doces e suaves mulheres porto-alegrenses recém-amanhecidas que cruzam a vista.