sexta-feira, 11 de maio de 2007

Deputado Raul Pont é um elogio à corência política

O deputado Raul Pont, líder da bancada do PT na Assembléia Legislativa gaúcha, se manifestou contrariamente ao aumento automático dos salários dos deputados estaduais em decorrência do aumento que concederam a si próprios as Suas Excelências federais [postagens anteriores].

O deputado Raul disse: “não temos condições éticas e nem morais para fazer este automatismo”. E defendeu a votação em plenário, ao invés do simples ato administrativo da incorporação automática de mais 29% nos próprios salários:

Do nosso ponto de vista, qualquer aumento salarial para os deputados estaduais terá de ser discutido e votado em plenário. Não há nenhuma condição de aceitarmos este reajuste, mesmo sabendo que o percentual é relativo a índices inflacionários dos últimos quatro anos. Este aumento contrasta com a proposta de reajuste de 3,3% no piso regional oferecida pelo governo estadual.”

O deputado Raul Pont [PT/RS] é um notável exemplo de coerência política contra os privilégios, as injustiças e as desigualdades. É um elogio a uma forma digna de fazer política. Não só hoje, mas em todo o seu longo percurso político.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Privilégios em cascata

A decisão de Suas Excelências federais tem efeito cascata para praticamente todos os legislativos do país, de Câmaras de Vereadores a Assembléias Estaduais, que têm os salários dos edis vinculados aos de deputados federais.

Os deputados estaduais gaúchos a algum tempo agem matreiramente, se precavendo do constrangimento e desgaste de terem de votar aumentos salariais, tendo seus ganhos fixados automaticamente em 75% do que recebem Suas Excelências federais. Com isso, passarão a ganhar 12.384,06 reais ao mês.

Com um detalhe: a aplicação do aumento é automática, a frio, num simples ato administrativo, sem discussão em plenário e sem as vistas da sociedade e da imprensa. Engana-se quem pensa que a vida de Suas Excelências de lá e de cá é fácil: engendrar jeitinhos para manter privilégios dá muito trabalho e consome tutano ...

Quando privilégio e impunidade se parecem a mesma coisa

Suas excelências, os deputados federais, aumentaram ontem em 28,5% os próprios salários, que passam para 16.512,09 reais. Na mesma sessão também aumentaram os salários do Presidente da República e dos Ministros de Estado, que passam respectivamente para 11.420,21 e 10.749,02 reais.

A medida tem vigência a partir de 1º de abril, portanto Suas Excelências receberão retroativamente as diferenças havidas. Com o aumento nos salários, suas excelências atenuam a condição de heróis sacrificados dos Ministros de Lula.

Suas Excelências na verdade se mobilizam forte desde o final do ano passado para aumentarem os próprios salários em 91% [abordado em dez 2006 por BiruTaDoSuL nos artigos “A deformidade dos salários” e “Deputação ou Depravação?”, clicar para lembrar] para passarem a receber o mesmo teto do Poder Judiciário, de 24.500 reais.

Ao invés de aumentarem os próprios salários para 16 mil reais, Suas Excelências deveriam propor seu congelamento e vincularem qualquer novo aumento a determinado número de salários mínimos.

Nos dias atuais, de descrédito e desgaste do Parlamento, do Poder Judiciário com membros implicados com a máfia da jogatina gozando de leis especiais, privilégio e impunidade passam a impressão de serem a mesma coisa.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Vitória de Sarkozy revela ocaso de certa “esquerda”

A França, a velha e exemplar França que desde séculos ilumina o mundo com as luzes da liberdade, da igualdade e da fraternidade, já não vem conseguindo emitir os mesmos sinais reluzentes do passado.

Aquele país da Revolução Francesa, da Marselhesa, da Resistência ao nazismo e, menos remotamente, a França do Maio de 68, parece confirmar seu ocaso diante da onda de direita que assoma também em outros países europeus.

A eleição do direitista Nicolas Sarkozy na França expõe de maneira ainda mais clara o atual contraste entre os contextos sócio-políticos da Europa e da América Latina. Enquanto no continente latino-americano fervilham experiências de governos progressistas e de esquerda, na Europa as tensões e insatisfações sociais não têm se traduzido automaticamente em avanços políticos e eleitorais para a esquerda partidária. Ao contrário e contraditoriamente, a crise no velho continente tem beneficiado as tradições ideológicas da direita – em alguns casos os setores mais xenófobos.

A situação eleitoral que se desenha na Inglaterra não se afasta desse marco geral, com a tendência de desfecho favorável ao conservadorismo mais duro em substituição a Tony Blair, em que pese as razões para o esgotamento da política pseudo-socialdemocrata serem de recorte crítico e progressista, como as questões sociais, de emprego e a forte crítica à participação inglesa na guerra do Iraque.

A terceira derrota presidencial sucessiva que sofre o Partido Socialista Francês [PSF] desde 1995 – quando não fez a sucessão ao governo Mitterrand -, produzirá profundas mudanças na agremiação. Sob outro ângulo, a derrota do PSF, assim como a iminente dos trabalhistas ingleses, acelera o enfraquecimento dos setores tidos na Europa como de esquerda [mais devido à nomenclatura adotada que aos programas: socialistas, trabalhistas, verdes, social-democratas, etc], que ao longo das experiências nos governos executaram essencialmente planos neoliberais.

De outra parte, o conjunto dos agrupamentos da verdadeira esquerda – na Europa designada como esquerda radical – alcançou ao redor de 10% nesta eleição na França. Este setor antineoliberal que se referencia no ideário do Fórum Social Mundial teve um crescimento de 30% em relação à última eleição francesa, tendo como grande revelação o jovem carteiro de 33 anos, Olivier Besancenot, que participou da segunda disputa presidencial pela trotskista Liga Comunista Revolucionária [LCR] e foi o mais votado dentre todos os candidatos da esquerda.

Mais além da legítima preocupação com o ascenso de um reacionário ao governo francês, é preciso enxergar o processo em curso sob outro ângulo que ajude a desvelar o fenômeno europeu da perda de influência dos partidos políticos centristas que convergem à direita para se transformarem em sócios bastardos do neoliberalismo. A esquerda francesa, herdeira legítima do Maio de 68, se souber atualizar seu programa e ampliar a audiência na sociedade sem perder a identidade, poderá acumular forças e energias para se tornar opção real de poder democrático e popular em médio prazo.

Na América Latina avançam projetos que poderão fazer avançar o processo de integração continental no rumo de importantes mudanças geopolíticas. Esse é o espírito de iniciativas como a Alternativa Bolivariana para as Américas – ALBA e o Banco do Sul, por exemplo. É com a radicalização de projetos democráticos e populares em cada país latino-americano e na consolidação de uma América integrada e livre que poderemos inflamar o velho continente com as melhores aspirações de mudanças pela esquerda.

A história tem mostrado que tanto lá como aqui o mimetismo neoliberal pode ser fatal para as aspirações estratégicas da esquerda.

terça-feira, 8 de maio de 2007

“toda idea siniestra debe ser sometida a críticas demoledoras sin concesión alguna”

E poder-se-ia agregar a esta frase do Fidel: "toda persona siniestra y arrogante también debe ser sometida a las mismas críticas demoledoras sin concesión alguna

La tragedia que amenaza a nuestra especie [reflexões de Fidel Castro, publicadas no Granma]

No puedo hablar como economista o como científico. Lo hago simplemente como político que desea desentrañar los argumentos de los economistas y los científicos en un sentido u otro. También trato de intuir las motivaciones de cada uno de los que se pronuncian sobre estos temas. Hace sólo 22 años sostuvimos en Ciudad de La Habana gran número de reuniones con líderes políticos, sindicales, campesinos, estudiantiles, invitados a nuestro país como representantes de los sectores mencionados. A juicio de todos, el problema más importante en aquel momento era la enorme deuda externa acumulada por los países de América Latina en 1985. Esa deuda ascendía a 350 mil millones de dólares. Entonces los dólares tenían un poder adquisitivo muy superior al dólar de hoy. Clique para continuar a leitura.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Novas dificuldades para o Império

As dificuldades militares dos Estados Unidos não são restritas ao Iraque, embora as atenções da mídia internacional mirem quase exclusivamente aquela área de conflito bélico em que está metido o império.

No Afeganistão, a situação de descontrole é cada vez maior, e crescem os movimentos de oposição tanto armada quanto política ao regime manietado pelo governo estadudinense com o o apoio da OTAN, como também as redes terroristas – Al Qaeda à frente – começam a reconstruir sua capacidade logística e operacional.

Na realidade, o governo Bush teve de “compartilhar” na marra o gerenciamento do conflito no Afeganistão com os países-membros da OTAN para se dedicar crescentemente à situação iraquiana, que a cada momento passa a etapas mais complexas e incontroláveis.

Immanuel Wallerstein, em artigo publicado no La Jornada, lança a hipótese de que dias ainda piores poderão advir para o império no Afeganistão. E lança a pergunta: ذEs Afganistán la siguiente derrota?” [clique para ler]

Confúncio no Planalto

Preparem-se todos para a viagem rumo ao idílio: em muito breve o filósofo Roberto Mangabeira Unger, o Confúncio americano-brasileiro, desembarcará no Planalto para ser Ministro da Secretaria de Ação de Longo Prazo.

Mangabeira Unger é o pensador - como gosta de se auto-definir - que em 2006 fez côro ao espírito golpista da direita escrevendo o artigo “Pôr fim ao governo Lula” [sic], no qual afirmou que “o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional” e que Lula seria “avesso ao estudo e ao trabalho”.

Hoje, porém, Mangabeira diz que aceita o convite de Lula para participar “dessa obra de transformação”. Ele deve ser referir, presumivelmente, ao governo Lula, que só será considerada uma “obra” de “transformação” a partir de agora, quando ele passará a integrar o mesmo governo que já foi, na própria opinião, “o mais corrupto de nossa história nacional”, capitaneado por aquele que é “avesso ao estudo e ao trabalho”.

A presença do filósofo na condução dos assuntos estratégicos e de longo prazo da República seria hilária [na parte que toca a ele] não fosse trágica - porque afetará a todos nós, os tementes da Planície. Em entrevista à Folha de hoje, revela-se admirador do “talento analítico de Daniel Dantas”, aposta no potencial da auto-ajuda da “classe média emergente” e revela a presunção de que desempenhará um papel messiânico na política brasileira.

A função de Messias
Definindo a si próprio como “pensador e cidadão” [nessa ordem], o filósofo profetiza que “temos de dar instrumentos à energia dispersa e frustrada do país” ..., “que transforme em flexibilidade preparada o espontaneísmo inculto do nosso povo”. Tóing!

O filósofo também divaga que “se nós olharmos embaixo, para essa classe média emergente, temos uma nova forma associativa e de auto-ajuda no Brasil, que o país não vê”. Só o olhar profundo do filósofo consegue enxergar “embaixo” uma “classe média emergente” altruísta e solidária e não o imenso e real pobrerio do país.

O oráculo da política
O filósofo, que fez parte em 2005/2006 da pior onda golpista desencadeada pelo udenismo que serviu para ao menos demonstrar a higidez institucional do país, defende a diminuição da “dependência das mudanças em relação às crises”, e ensina que “conseguiremos isso por meio de uma democracia de alta energia, mudancista”. Tóing! Tóing!

Tal democracia “de alta energia, mudancista”, contudo, não contempla plebiscitos e referendos. Sentencia o filósofo: “É um erro confundir democracia mais participativa com democracia plebiscitária. O plebiscito isoladamente e uma grande democratização da informação e da participação nos processos decisórios sempre trazem o risco do cesarismo.”. Democracia sim, do tipo que permite que se case com quem quiser, desde que seja com ... Maria ...

Um emissário do Norte
O espírito de doação do filósofo, que renunciará ao salário mensal de quase cinqüenta mil reais por mês [afora polpudas consultorias, como as que prestou ao Daniel Dantas] ganhos na Universidade de Harward, fica ainda mais evidenciado quando se sabe que aqui se tornará um “herói” [como Lula chama seus abnegados Ministros] que receberá somente oito mil reais por mês.

Mas ele virá, trazendo consigo o propósito de consertar o Brasil e conferir ao país um sentido de futuro, apesar de considerar que “as instituições políticas, econômicas e educacionais do Brasil são de uma rigidez mortífera.”.

Os colegas dele, segundo o próprio, estão exultantes com a empreitada que assumirá no país-laboratório chamado Brasil. O filósofo diz que “estão todos querendo que aconteça alguma coisa, querem uma alternativa.”. Decerto agora as coisas vão ...

Harward, a Universidade onde o filósofo ensina, é o centro moral e teórico dos badboys do neoliberalismo mundial. O candidato tucano-pefelista Alckmin, aliás, passa uma temporada de estudos por lá.

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Por todas essas, e apesar de todas essas, é necessário continuar acreditando que “a vida é bela”, como disse Trótski em seu testamento político, e “que as gerações futuras a limpem de todo o mal, de toda opressão, de toda violência e possam gozá-la plenamente.”. Infelizmente a realidade, nem tão bela, insiste em revelar a tragédia do pragmatismo e do cretinismo.