sábado, 9 de dezembro de 2006

Michael Moore envia carta ao povo e ao Congresso dos Estados Unidos

Michael Moore, conhecido cineasta estadunidense autor de Tiros em Columbine e Fahrenheit 9/11 dentre outras importantes produções cinematográficas, publicou no seu saite [www.michaelmoore.com] uma carta enviada ao Congresso e ao povo dos Estados Unidos exigindo a retirada das tropas estadunidenses de ocupação do Iraque, bem como o pagamento de indenizações ao Iraque.

Michael Moore é uma das vozes mais críticas ao governo de George W. Bush Júnior [ou Mister Danger, como se refere a ele o Presidente Hugo Chávez] e com sua atuação desempenha um papel importante na formação de uma consciência alternativa no reino da alienação. Adiante, a carta:


Amigos,

Hoje (27/11) marca o dia em que permanecemos no Iraque mais tempo que aquele que levamos para combater na Segunda Guerra Mundial.

É isso mesmo. Nós fomos competentes para derrotar a Alemanha Nazista, Mussolini e o Império Japonês inteiro em menos tempo que a única superpotência mundial gastou para tentar tornar segura a estrada que liga o aeroporto de Bagdá ao centro da cidade.

E nós não conseguimos fazer isso. Após 1.437 dias, no mesmo tempo que levamos para irromper pela África do Norte, conquistar as praias da Itália, conquistar o Pacífico Sul e libertar toda a Europa Ocidental, nós não pudemos, após 3 anos e meio, conquistar sequer uma simples estrada e proteger a nós mesmos de bombas caseiras, feita de latinhas, colocadas em buracos nas rodovias. Sem contar que uma viagem de táxi do aeroporto até Bagdá, de 25 minutos, custa 35 mil dólares e o motorista não te dá sequer um mísero capacete para sua proteção.

A culpa desse fracasso se deve a nossas tropas? Dificilmente. Não importa o quanto de tropas, de helicópteros ou de democracias nos cuspamos das nossas armas, nada irá "vencer, a guerra no Iraque". Ela é uma guerra perdida. Perdida porque jamais teve o direito de ser vencida, perdida porque começou por homens que jamais estiveram em uma guerra, homens que se escondem atrás daqueles que foram enviados para lutar e morrer..

Vamos ouvir o que o povo iraquiano está dizendo, de acordo com uma pesquisa recente feita pela Universidade de Martland:

- 71% de todos os iraquianos querem os EUA fora do Iraque.

- 61% de todos os iraquianos apóiam os ataques da resistência contra as tropas americanas.

Sim, a vasta maioria dos cidadãos iraquianos acham que nossos soldados devem ser mortos e massacrados! Então, o que diabos nós ainda estamos fazendo lá? Vamos interpretar como se não tivessemos compreeendido a deixa? Existem diversos modos de libertar um país. Freqüentemente os cidadãos se rebelam e se libertam a si próprios. Foi assim que nós fizemos.

E você também pode fazer isso de modo não violento, usando a desobediência civil. Foi assim que a Índia fez.

Você pode também fazer com que o mundo inteiro boicote o regime de um país até que ele caia no ostracismo e capitule.

Foi isso que aconteceu com a África do Sul.

Ou, você pode simplesmente esperar que eles cansem e caiam fora, cedo ou tarde, como as legiões do rei fizeram (Algumas só porque estavam com muito frio). Isso aconteceu no vizinho Canadá.

O único modo que não funciona é invadir um país e dizer a seu povo "Estamos aqui para libertar vocês", enquanto eles não faziam nada para libertar-se.

Onde estavam todos esses homens suicidas enquanto Saddam Hussein oprimia o povo? Onde estavam os "insurgentes" que plantam bombas nas estradas quando o comboio do maligno Saddam Hussein passeava por elas? E acho que o velho Saddam era um déspota cruel - mas não tão cruel a ponto de milhares arriscarem seus pescoços contra ele.

"Ah não Mike, eles não podiam fazer isso! Saddam os mataria!" Sério? você acha que o rei George não mataria quem se insurgisse contra ele? Você acha que Patrick Henry e Tom Paine tinham medo? Isso não os impediu de lutar.

Quando dezenas de milhares de pessoas não têm a inclinação de sair às ruas e derramar seu sangue para remover um ditador, isso deve servir como uma boa pista de que eles não estão desejando participar de alguma libertação promovida de fora.

Uma nação pode ajudar outro povo a remover um tirano (Foi o que os franceses fizeram por nós em nossa revolução), mas depois disso, você cai fora. Imediatamente! Os franceses não ficaram e nos disseram como deveriamos constituir nosso governo.

Eles não disseram "não estamos indo embora porque nós queremos os seus recursos naturais".

Eles nos deixaram à nossa própria sorte e nós levamos seis anos para fazer uma eleição depois da partida deles.

E daí tivemos uma sangrenta guerra civil. Isso foi o que aconteceu e a História está cheia desses exemplos. Os franceses não disseram: "Oh, é melhor ficar na América, de outro modo eles vão se matar uns aos outros discutindo essa história de escravagismo".

O único caminho que leva uma guerra de libertação ao sucesso é ter por trás dela o apoio de seus próprios cidadãos - e um numeroso grupo de Washingtons, Jeffersons, Franklins, Gandhis e Mandelas liderando a insurreição. Onde estão esses faróis da liberdade no Iraque? Essa é uma piada e tem sido uma piada desde o início. Sim, nós eramos a piada, mas com 655.000 iraquianos mortos como resultado da nossa invasão - segundo a Universidade John Hopkins - eu acho que a piada de mau gosto agora é deles. Pelo menos eles foram libertados, permanentemente.

Por isso não quero ouvir nenhuma outra palavra sobre enviar ainda mais tropas (acorda Estados Unidos, John McCain está maluco!), ou sobre "realocá-las", ou esperar mais quatro meses para começar a " vencer o prazo" delas.

Só existe uma única solução e ela é simples: retirada! Agora. Comecem hoje à noite. Vamos cair fora de lá o mais rápido que pudermos.

Quanto mais pessoas de boa vontade e consciência não quiserem acreditar nisso, quanto mais mortes nós teremos para aceitar a derrota, nada poderemos fazer para reparar o dano que cometemos. O que aconteceu, aconteceu.

Se você dirigiu bêbado, atropelou e matou uma criança, não haverá nada no mundo que você possa fazer para devolver a vida àquela criança.

Se você invadiu e destruiu um país, lançando o povo a uma guerra civil, não há nada que você possa fazer até que a fumaça dissipe e o sangue derramado seque. Então, talvez, você possa acordar e ver a atrocidade que cometeu e depois ajudar os sobreviventes a tentar melhorar suas vidas.

A União Soviética caiu fora do Afeganistão em 36 semanas. Saíram assim e tiveram perdas pesadas na retirada.

Eles compreenderam o erro que cometeram e removeram suas tropas. Depois, veio uma guerra civil. Os maus venceram.

Mais tarde, nós derrubamos os maus e tudo viveu melhor depois disso. Veja! No fim, a coisa funciona! A responsabilidade pelo fim dessa guerra cabe agora aos democratas. O Congresso puxa as cordinhas e a Constituição diz que só o Congresso pode declarar a guerra. O senhor Reid e a senhora Nancy Pelosi têm agora o poder para colocar um fim a essa loucura. Se fracassarem nisso, a ira dos eleitores recairá sobre eles. Nós não estamos brincando senhores democratas e se vocês não acreditam em nós, toquem em frente e continuem essa guerra por outro mês. Nós lutaremos contra vocês ainda mais forte que fizemos contra os republicanos. A página de abertura de meu site na Internet tem uma foto de Nancy Pelosi e Henry Reid, feitas a partir de fotos de soldados americanos que morreram lutando a Guerra de Bush.

Mas que será a partir de agora a Guerra de Bush contra os Democratas, a menos que alguma outra rápida ação seja tomada.

Essas são nossas exigências:

1 - Tragam as tropas para casa já! Não em seis meses. Agora! Deixem de procurar um meio de vencer. Nós não podemos vencer. Nós perdemos.

Às vezes se perde. Essa é uma dessas vezes. Sejam corajosos e admitam isso.

2 - Peçam desculpas a nossos soldados e façam melhor. Digam a eles que nos desculpem porque eles foram usados para lutar uma guerra que não tinha nada a ver com a nossa segurança nacional. Nós precisamos assegurar que cuidaremos deles e que eles sofrerão o mínimo possível. Os soldados incapacitados fisica e psicologicamente receberão os melhores cuidados e uma compensação financeira significante. As famílias dos soldados que morreram merecem as maiores desculpas e precisam ser cuidadas para o resto das suas vidas.

3 - Devemos nos expiar das atrocidades que perpetramos contra o povo do Iraque. Há poucos males piores que fazer a guerra baseados em uma mentira, invadir outro país porque você quer o que é deles e que está enterrado no solo. Agora muitos mais irão morrer. Seu sangue estará em nossas mãos, não interessa em quem votamos. Se você paga impostos, contribuiu para os 3 bilhões de dólares por semana que gastamos para levar o Iraque para o Inferno onde está o país agora. Quando a guerra civil tiver terminado, nós deveremos ajudar a reconstruir o Iraque.

Nós não podemos nos redimir se não fizermos isso.

Por último, há uma coisa que eu sei. Nós, americanos, somos melhores do que as coisas que fizeram em nosso nome. A maioria de nós ficou estarrecida e zangada com o que aconteceu em 11 de setembro e perdeu a cabeça. Nós não pensamos direito e jamais olhamos um mapa.

Porque somos mantidos na estupidez graças ao nosso sistema patético de educação e à nossa mídia preguiçosa, não sabemos nada de História.

Nós não sabemos que somos os caras que financiaram e armaram Saddam Hussein por muitos anos, inclusive quando ele massacrou os curdos.

Ele era o nosso cara. Nós não sabíamos o que era um sunita ou um xiita, sequer havíamos escutado essas palavras.

De acordo com o National Geographic, 80% dos adultos do nosso país não sabem localizar o Iraque no globo terrestre.

Nossos líderes jogaram com nossa estupidez, nos manipularam com suas mentiras e nos amedrontaram até a morte.

Mas, no fundo, somos um povo de bom coração. Aprendemos devagar, mas a bandeira de "missão cumprida" nos atingiu de modo ímpar e cedo começamos a fazer algumas perguntas. Depois, começamos a ficar espertos. No último dia 7 de novembro, nós ficamos loucos e tentamos consertar nossos erros.

A maioria agora conhece a verdade. A maioria agora sente uma tristeza e culpa profundas e uma esperança de qualquer coisa que seja feita, será melhor e colocará tudo nos eixos.

Infelizmente, não é assim. Então precisamos aceitar as conseqüências de nossas ações e fazer o melhor para que o povo iraquiano possa até pensar em pedir auxílio a nós no futuro. Pedimos a eles que nos perdoem.

Pedimos aos democratas que nos escutem e que saiamos do Iraque agora!

Do seu, Michael Moore

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

O Fidel Castro que Eu conheço

Hoje, 06/12, será exibido o documentário O Fidel que Eu conheço no Discovery, canal 51 de TV por assinatura. O documentário leva o mesmo nome do ensaio escrito por Gabriel García Márquez, cujas passagens do belíssimo texto transcrevemos adiante [quem desejar o texto completo, é só solicitar]:

"... Fatigado de conversar, descansa conversando. Escreve bem e gosta de fazê-lo. O maior estímulo de sua vida é a emoção do risco. A tribuna de improvisador parece ser seu meio ecológico perfeito. Começa sempre com voz quase inaudível, com um rumo incerto, mas aproveita qualquer chispa para ir ganhando terreno, palmo a palmo, até que dá uma espécie de grande fisgada e se apodera da audiência. É a inspiração: o estado de graça irresistível e deslumbrante, que só negam aqueles que não tiveram a glória de vivê-lo. É o antidogmático por excelência. ..."

"... Ninguém pode ser mais obsessivo do que ele quando se propõe a levar a fundo qualquer coisa. Não há um projeto colossal ou milimétrico, no qual não se empenhe com uma paixão encarniçada. E, em especial, tem que enfrentar a adversidade. Em nenhuma outra situação parece melhor disposto, de melhor humor. Alguém que crê conhecê-lo bem disse para ele certa vez: 'As coisas devem andar muito mal, porque você está radiante.' ... "

"... Sua visão da América Latina no futuro é a mesma de Bolívar e Martí, uma comunidade integrada e autônoma, capaz de mover o destino do mundo. O país do qual mais sabe, depois de Cuba, é os Estados Unidos. Conhece a fundo a índole de sua gente, suas estruturas de poder, as segundas intenções de seus governos, e isto o ajudou a suportar a tormenta incessante do bloqueio. ..."

"... Escutei-o, em suas escassas horas de nostalgia, evocar as coisas que poderia ter feito de outro modo para ganhar mais tempo na vida. Ao vê-lo incomodado pelo peso de tantos destinos alheios, perguntei o que mais gostaria de fazer neste mundo, e ele me respondeu imediatamente: ficar parado em uma esquina."

domingo, 3 de dezembro de 2006

Em nome da justiça e da história

Teve início uma campanha [texto adiante] de apoio à ação judicial declaratória impetrada pela família Maria Amélia e César Teles contra Brilhante Ustra, torturador responsável pelo DOI-CODI em São Paulo no período mais escabroso da repressão militar. A vitória da família Teles cria um novo paradigma jurídico e institucional acerca do julgamento dos crimes ocorridos no período ditatorial, colocando o Brasil na mesma trilha dos demais países do continente latino-americano.

Para que nunca mais aconteça, para que não se esqueça, todo apoio à família Teles! Para tanto, basta enviar email para apoioafamiliateles@gmail.com.


São Paulo, 23 de novembro de 2006

Tendo sofrido seqüestro e tortura entre 1972 e 1973, Maria Amélia de Almeida Teles (62 anos) e seus familiares – o marido César Teles (62), os filhos Janaína Teles (39) e Édson Teles (38), e a irmã Criméia de Almeida (61) abriram processo contra Carlos Alberto Brilhante Ustra, o "Tibiriçá", hoje com 74 anos, coronel reformado do Exército, que comandou o DOI-Codi de São Paulo entre setembro de 1970 e janeiro de 1974.

Trata-se de ação declaratória impetrada pelo advogado Fábio Konder Comparato junto à 23ª Vara Cível do Foro Central de São Paulo, exigindo o reconhecimento de ocorrência de danos morais e físicos, em processo que não envolve punição criminal ou indenização pecuniária.

Os abaixo-assinados em anexo prestam integral apoio a essa causa, por considerá-la atributo fundamental da democracia e por entender que a ofensa aos direitos humanos, como praticada durante a ditadura militar, não está sujeita a prescrição.

Os interessados em assinar a moção favor enviar seu nome ou instituição que representa para o e-mail apoioafamiliateles@gmail.com. A lista dos abaixo-assinados será atualizada a cada três dias.

Cordialmente,

Grupo de Apoio a Família Teles