sábado, 11 de novembro de 2006

Manuela em alta - Ministra da Juventude de Lula!?

A cada dia sobe mais a cotação da jovem combativa Manuela D´Ávila, recém eleita a deputada federal mais votada do país pelo legendário PCdoB. Manuela encantou tanto o presidente Lula que é cogitada para conduzir a Secretaria Nacional da Juventude, órgão que seria criado no segundo mandato com status de Ministério.

Manuela, que participou intensamente na propaganda eleitoral de televisão da campanha de Lula [teria sido ótimo se tivesse tido a mesma presença na campanha de Olívio], já tinha se tornado atração em função da montanha de votos obtidos. Agora, poderá assumir um papel importantíssimo na construção de políticas e estratégias públicas para a juventude – com impacto imediato e para a constituição de novas gerações dirigentes do país. Bom para ela, bom para o PCdoB, bom para a esquerda, bom para o governo Lula e melhor ainda para a juventude brasileira.

Caso assuma esta tarefa, o primeiro suplente de deputado federal, Fernando Marroni de Pelotas, ocupa a cadeira na Câmara dos Deputados, o que também é positivo para o PT da região sul do Rio Grande, que ficou sem representação no legislativo federal devido aos equívocos eleitorais cometidos.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Para que nunca mais aconteça [reprodução de post do Biruta 10 setembro 2006]

A família de Maria Amélia e César Teles ingressou com uma ação civil contra o torturador e hoje coronel aposentado do Exército, Carlos Alberto Brilhante Ustra, que durante a ditadura militar no Brasil foi um dos piores algozes dos presos políticos, dos seus familiares e de muitas pessoas inocentes.

É de se elogiar que a ação dessa família não busca indenização pecuniária ou a aplicação de pena ao torturador, protegido pela Lei da Anistia, mas a declaração de danos à integridade física, moral e psicológica sofrida.

A ação é mais uma homenagem à memória dos que tombaram na luta contra a ditadura, aos seus familiares, aos que sobreviveram e à luta pela libertação, contra as injustiças e as desigualdades.

Lembrar é fundamental, para que nunca mais aconteçam barbáries totalitárias contra o povo brasileiro e contra qualquer povo de qualquer parte do mundo inteiro.

Belíssima a coincidência de divulgação da medida da família Teles, que ocorre no mesmo momento em que está em exibição o imperdível filme Zuzu Angel, de Sérgio Rezende. Assinantes do UOL ou da Folha poderão ler a matéria na íntegra na FSP de hoje [10/09/06]:

***

O julgamento do Coronel Brilhante Ustra começou ontem [08/11/06] em São Paulo. Ao ingressar no Foro para a seção de julgamento, César Telles disse que “Ele é um monstro e deve ser condenado para o bem da História do Brasil”.

Intendência Gerdau

Jorge Gerdau Johannpeter não é o que é por acaso. Tem faro, tirocínio e uma visão que muitos considerariam premonitória. Nos últimos dias, vinha dizendo que aceitaria ser Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio de Lula desde que desfrutando de “ampla autonomia para ditar os rumos do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]”!

O homem do aço sabe do que fala: controlar os instrumentos do Estado e direcioná-los para interesses particulares é a alma do negócio: só no atual governo estadual gaúcho, abocanhou R$ 1 bilhão em benefícios fiscais através do Fundopem. Ele já havia abocanhado, no início dos anos 1990, a estatal Aços Finos Piratini, que deu o impulso inicial para a formação do império de Gerdau.

Deu na Folha de SP de hoje que o Grupo Gerdau realizou 11 operações de financiamento junto ao BNDES no valor de R$ 1,752 bilhão desde 1999 até este ano [assinantes UOL ou FSP podem ler a notícia na íntegra clicando aqui].

Por mais de tenha divulgado nota pública voltando atrás nas manifestações anteriores de participar do governo Lula, é improvável que tenha desautorizado os movimentos nesse sentido. Gerdau é o típico neoliberal brasileiro: preconiza o Estado Mínimo para todo o povo e favorecimento máximo dos conglomerados econômicos através do Estado.
Foi assim que ele se fez na vida. Essa seria sua receita para o “sucesso” do governo Lula.

Ministro João Pedro Stédile?!

Há quem defenda, internamente no PT, que o critério de "notabilidade", "notoriedade" e "mega-representatividade setorial" que o presidente Lula adota para cogitar Jorge Gerdau Johannpeter no seu Ministério, poderia perfeitamente ser aplicado para a escolha de João Pedro Stédile no time de ministros de Lula.

O assunto corre animado em lista de discussão de importante tendência interna do PT. Quem poderia imaginar Jorge Gerdau Johannpeter e João Pedro Stédile colegas de repartição no Governo Lula. Os tempos são, decididamente, os profetizados por Nostradamus ...

Bush go home


Foi amarga a derrota sofrida por Bush nas eleições legislativas norte-americanas. Tem gosto de Vietnã, que foi outra malograda incursão do império nos anos 60/70 contra o direito dos povos à auto-determinação e à própria soberania. O Partido Republicano de Bush [que de republicano não tem nada] perdeu o controle da Câmara de Representantes [Câmara Federal deles] e também perdeu a maioria no Senado para o Partido Democrata [que é mais liberal que qualquer coisa] de Hilary e Bill Clinton.

Com o resultado, caiu o Secretário de Estado da Defesa, Donald Rumsfeld. Rumsfeld é o mesmo senhor que flertava com Saddam e fazia negócios escusos com o regime iraquiano nos anos 1980 durante o regime Reagan / Bush-pai e que na era do Bush-filho [apelidado de Mister Danger pelo presidente venezuelano Hugo Chávez] falsificou provas e fatos para justificar a guerra unilateral contra o Iraque.

A fotografia acima dispensa legenda, fala por si. Como bem escreveu no New York Times Paul Krugman, “Bush é um tirano inseguro que acredita que admitir um erro questionaria sua virilidade. É o tipo de homem que nunca deveria exercer um poder livre de barreiras e contrapontos, como o que recebeu de presente depois do 11 de setembro. Mas, infelizmente, a ele foi dado esse tipo de poder, assim como um salvo-conduto de boa parte da imprensa.”.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Barbárie contra os palestinos

Ariel Sharon padece moribundo na UTI, mas seu espírito belicoso vive. A resposta do exército israelense a manifestantes palestinos que usam pedras e bombas caseiras, é a descarga absurda de mísseis em alvos civis. Novo ataque hoje na Faixa de Gaza – território palestino ainda tutelado por Israel – causou a morte de 18 civis inocentes, das quais sete crianças.

A seqüência de atentados israelenses ao povo e ao Estado Palestino se enquadra na categoria de crime de guerra e crime contra a humanidade. Por onde anda a ONU, que não intercede na região e não instala o Tribunal Penal Internacional para julgamento justo dos criminosos dessa guerra estúpida? Por que Bush é tão condescendente com o terrorismo do governo israelense se o mesmo não difere, nos efeitos desumanos que produz, do terrorismo de Bin Laden?

A indiferença do mundo em relação ao conflito no Oriente Médio pode trazer conseqüências gravíssimas para o já instável sistema político internacional. Com o contínuo agravamento da situação no Iraque e a hostilidade quanto ao papel do governo norte-americano na região, a amplificação dos conflitos entre Israel e Palestina põe mais combustível na crítica situação internacional.

Começa cair a máscara de Yeda

A governadora eleita do Rio Grande, Yeda Crusius Credo [YCC], cometeu uma série de deslizes e gafes no programa do Jô Soares na TV Globo. Tentando aparentar familiaridade com o linguajar gauchesco e parecer simpática à cultura gaúcha, YCC errou feio ao fazer piada de mau gosto com a morte da mãe do cantor tradicionalista e também finado Teixeirinha. Dentre outras asneiras, disse que “pantalha” é uma indumentária típica dos gaúchos – talvez de gaúchos ligados na tomada ....

Mas as mancadas da governadora eleita valem menos pelo conteúdo do que por simbolizarem a desconstituição precoce da artificialidade e da trucagem apresentada nas eleições. Ou, dito claramente: está caindo a máscara eleitoral e a fantasia ilusionista para ganhar votos.

Nas negociações para montagem do governo, YCC reagrupa a velha turma que dilapidou o Estado, ressuscita personagens manjados na cena pública e portadores de um jeito antigo e fracassado de governar. Não tardará a hora em que a governadora eleita tentará impor seu verdadeiro programa, aquele que foi sistematicamente escondido nas eleições. Ela dá indícios de que poderá transferir antecipadamente ao governo Lula a culpa pelas dificuldades, ao considerar como pauta prioritária a redução para 9% do percentual da dívida. Nas eleições, sempre dizia que a renegociação da dívida, feita pelo Britto e FHC, foram como "um bombom maior que a festa da Páscoa na Serra".

Gerdau quer estender sua intendência para o resto do país

Continua replicando a notícia de que o mega-empresário mundial do aço, Jorge Gerdau Johannpeter, poderá compor o Ministério do segundo governo Lula. O empresário avança as pedras no tabuleiro e não só diz ter sido sondado por Lula, como confirma interesse de comandar o Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio desde que tenha “ampla autonomia para ditar os rumos do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]”! [sic]

Gerdau sabe o que quer, escancara seu desejo e sabe perfeitamente qual é a fonte capaz de saciar seus interesses. Na sua intendência no Rio Grande, o seu atual preposto no Palácio do Piratini presenteou o mega-empresário com benefícios fiscais de R$ 1 bilhão.

Caso venha efetivamente tomar parte no governo federal, haveria um grave conflito de interesses entre os negócios do Grupo Gerdau com o Estado brasileiro e a presença do patrono Gerdau gerindo os instrumentos estatais e as políticas públicas.

Porto Alegre no atoleiro

O afundamento de um ônibus de linha num buraco no asfalto, ocorrido na segunda-feira [06/11] no cruzamento da Rua Coronel Bordini com a Avenida Cristóvão Colombo, em Porto Alegre, é a mais apropriada metáfora do atoleiro de Porto Alegre na atual administração municipal.

O episódio decorreu de vários fatores combinados que sintetizam o descalabro dos serviços públicos da capital sob a administração do prefeito Fogaça e seu condomínio partidário de sustentação. Foi a conjugação de chuva intensa com obra sem planejamento, duvidosa qualidade técnica do trabalho executado e desconexão entre os órgãos municipais envolvidos na mesma ação.

Isto tem sido a regra do governo municipal em relação às obras e serviços públicos. Basta se observar atentamente a forma como os serviços públicos vêm sendo executados em Porto Alegre para se comprovar a incompetência e descalabro administrativo.

Obras simples e rotineiras de manutenção de ruas, por exemplo, são executadas em horários inadequados, sem planejamento e causam transtorno ao trânsito de regiões inteiras, não só dos pequenos trechos em reparos.

Outras obras mais estruturantes de esgotamento sanitário ou de telecomunicações comprometem regiões amplas simultaneamente, não têm cronograma confiável e demoram meses seguidos até a conclusão, depois de terem os mesmos serviços feitos e refeitos diversas vezes.

A coleta de lixo também segue o mesmo padrão de desordem: é realizada em horários de movimentos intensos, não há regularidade diária e a qualidade é deplorável – vide a sujeira em que se encontra a cidade.

Na época da Administração Popular, assuntos de muito menor relevância mereciam denúncias espalhafatosas em telejornais, capas de jornais, comentários diuturnos nos programas de rádio e debates a fio.

Mas os tempos são outros e Porto Alegre é governada pelo cavalo do comissário. Por isso Zero Hora não repercutiu o ônibus atolado no buraco do desgoverno municipal, assim como não publica os inúmeros problemas cotidianos que denotam a queda impressionante da qualidade dos serviços municipais.

Na Porto Alegre deste governo blindado pela mídia, ônibus ficam emborcados em buracos no asfalto, a cidade é deixada imunda e pacientes caem de ambulâncias pela porta traseira. Mas tudo parece natural. É de se supor, entretanto, o tratamento que seria dispensado pela imprensa a um prefeito do PT se ocorresse a cena dantesca de queda de uma paciente grávida da porta traseira de uma ambulância do SAMU!

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Solidariedade com Oaxaca em Porto Alegre

Acontece as 17 horas deste 07/11 em Porto Alegre um ato de solidariedade à luta do povo mexicano da província de Oaxaca. O conflito iniciou em agosto passado depois que uma manifestação de mais de 70 mil professores foi duramente reprimida pelas forças policiais da província de Oaxaca.

Em reação à repressão sofrida, os professores e outras representações civis formaram a APPO [Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca], iniciaram um movimento de desobediência civil e de luta pela deposição do governador Ulises Ruiz Ortiz.

Desde então, um clima de conflito aberto tomou conta da situação, com muitos feridos e sete pessoas mortas, dentre as quais um repórter norte-americano. Órgãos do governo central mexicano – Exército e Polícia Federal – se juntaram às forças policiais regionais para reprimir e dissolver o movimento, como parte de acordo existente entre o PRI do governador de Oaxaca e o PAN do presidente Fox. Informações atualizadas sobre a situação em Oaxaca podem ser lidas no jornal La jornada, do México.

O ato de solidariedade porto-alegrense acontece a partir das 17 horas de hoje [07/11] na Praça Montevidéo, em frente ao prédio da Prefeitura Municipal.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Dupla derrota imperial

Tendências das eleições legislativas norte-americanas indicam que Bush Júnior poderá perder a maioria legislativa para o Partido Democrata.
Noutro front, Bush amargará outra derrota: Daniel Ortega, da Frente Sandinista de Libertação Nacional da Nicarágua desponta como presidente eleito no primeiro turno, pois atingirá mais de 35% dos votos totais e terá vantagem superior a 5% em relação ao segundo colocado, conforme determina a constituição nicaraguense. Ortega derrota o candidato declarado de Washington, o banqueiro Eduardo Montealegre.

A ver a chiadeira dos EUA contestando a legalidade da vitória da FSLN e as manobras que poderão reabrir a guerra civil naquele país, já gravemente enfernizado pelo governo Reagan/Bush pai em todo o período da Revolução Sandinista nos anos 80.

A tentação fatal da maioria no Congresso

Lula obteve uma estrondosa vitória no segundo turno das eleições. Quase 60 milhões de brasileiras e brasileiros confirmaram o novo mandato do presidente Lula numa das maiores votações nominais já recebida por um governante em toda a história política mundial.

Com isso, Lula espantou o fantasma golpista dos tucanos e pefelistas que pretendiam fazer do segundo turno um componente de deslegetimação e desestabilização permanente do segundo governo. Este é, portanto, um paradoxo positivo do segundo turno, apesar da sensação inicial corrente nas hostes governistas, após os resultados no primeiro turno, de uma derrota política.

E, no terreno das contradições que ficaram ampliadas com o segundo turno, a principal diz respeito à natureza das alianças de governo e o sentido programático do próximo governo. No primeiro mandato, o centro político do governo e a direção do PT hiper-valorizaram a constituição de maioria absoluta no Congresso Nacional sem identidade programática - deu no que deu.

Parece que os entendimentos novamente se balizam pela convicção de que é essencial constituir-se maioria congressual absoluta na base de alianças com velhos caciques regionais de acordo com os quinhões de parlamentares que eventualmente possuam – a reedição da lógica das capitanias hereditárias. Tem tudo para dar errado de novo.

A busca de maioria absoluta a qualquer custo – ou no caso atual, ao custo da regressão programática – carece de razões superiores. No primeiro mandato, pouquíssimas foram as matérias de interesse do governo que exigiam maioria qualificada de 2/3 no Congresso. Quando, todavia, o governo necessitou de maioria para impedir a verdadeira chanchada da oposição que criou cinco CPIs para funcionarem simultaneamente, o governo perdeu.

Um governo progressista ou de esquerda não pode se iludir com alianças ocasionais que se formam não no interesse nacional, público e popular, mas unicamente para o desfrute de vantagens particularistas na ocupação de espaços no aparelho de Estado brasileiro. Se o governo tem matérias de relevante interesse público ou projetos de reformas democratizadoras e modernizadoras do país e diminuidoras das desigualdades e injustiças sociais, sempre encontrará nas forças sociais organizadas – movimentos sociais, setores empresariais, eclesiásticos, prefeitos municipais e vereadores, no povo simples, etc – a verdadeira aliança para realizar as transformações represadas que o povo brasileiro exigiu nas eleições.

O governo não pode perder a noção da enorme autoridade conquistada eleitoralmente. Realizar alianças não significa renunciar aos próprios compromissos assumidos nas eleições, mas sim buscar constituir condições mais favoráveis para a concretização de objetivos traçados. É fundamental a combinação da maioria social articulada, ativa e participante nas decisões de governo através, por exemplo, do Orçamento Participativo, com a construção de uma maioria de apoio ao governo também no parlamento. A força e pressão do povo organizado e participativo é o melhor antídoto contra as investidas que a direita faz em oposição às reformas e transformações que restituirão ao povo brasileiro a dignidade que lhe foi subtraída ao longo da história.

Raça mobilizada e unida

A raça, a teimosa raça que não se rende à maldição de Bornhausen, está mobilizada e unida na solidariedade racial a Emir Sader. São mais de cinco mil assinaturas colhidas nos dois últimos dias, e que serão somadas a milhares de outras que se seguirão.

As pessoas que integram esta estranha raça de Emir e de outros pensadores, ativistas e militantes por uma sociedade livre e justa, podem se somar ao Manifesto clicando aqui.
Em breve ocorrerão novas manifestações e atos políticos em solidariedade ao Emir e de repúdio à sentença judicial. Aguardemos, pois.

domingo, 5 de novembro de 2006

Pela condenação de Saddam e de todos seus cúmplices criminosos

A Folha Online publica com destaque desde o início da manhã deste 05/11 a notícia de que “Saddam Hussein é condenado à forca por crimes de guerra”.
A sentença do Tribunal Iraquiano se refere unicamente ao crime de morte de 148 xiitas no povoado de Dujail, em 1982, pois Saddam ainda responde por vários crimes praticados desde que ocupou o poder no Iraque em 1979. Dentre os crimes que pendem de julgamento, constam vários genocídios promovidos contra a população curda, massacres de opositores ao regime, genocídio de populações civis na guerra contra o Irã com uso de armas químicas e outras proibidas e de crimes contra a humanidade.
Todos estes crimes foram praticados entre 1979 e 1990, quando Saddam e o regime ditatorial iraquiano eram apoiados financeiramente, militarmente, tecnologicamente e logísticamente pelo governo norte-americano de Ronald Reagan [1980 a 1988] e George Herbert Bush [pai do atual presidente, o Bush filho]. A condenação de Saddam ocorre curiosamente às vésperas das eleições legislativas dos EUA, e será usada por Bush como troféu para tentar evitar a derrota eleitoral dos republicanos nas eleições.

Fossem os tempos outros que não de um impressionante entorpecimento global de consciências promovido pela mídia norte-americana [que gera e pasteuriza 90% das informações que circulam diariamente no mundo], a informação do julgamento deveria ser acompanhada de alguns questionamentos:

i] Por que Saddam e seus auxiliares diretos, acusados de cometer crimes contra a humanidade, não estão sendo julgados pela Corte Penal Internacional ao invés de uma Corte Judicial que mais se assemelha a um tribunal de vingança de Bush e de etnias vitimadas pelas práticas criminosas de Saddam?

ii] Quando ocorrerá o julgamento do governo norte-americano, que foi cúmplice e colaborador de Saddam na prática dos crimes fornecendo tecnologias, recursos e armas químicas aplicadas contra a oposição curda e a população do Irã?

iii] Como se explica a natureza bárbara e primitiva da Justiça dos EUA e do Iraque, que aplica a pena de morte com enforcamento na condenação de criminosos?

iv] Quando iniciará o julgamento do governo dos EUA pelos crimes cometidos contra a humanidade na guerra ilegal e unilateral contra o Afeganistão e o Iraque?

v] Quando serão iniciadas as investigações sobre as prisões clandestinas e ilegais mantidas pelos EUA mundo afora, e quando haverá o fechamento da prisão de Guantánamo e o julgamento dos EUA pelos crimes ali cometidos contra civis inocentes?

vi] Se o julgamento de Saddam retroage aos anos 80 – o que é fundamental dentro do princípio de crimes imprescritíveis – porque não se instauram processos na Corte Penal Internacional para julgar os crimes cometidos contra a humanidade por sucessivos governos norte-americanos, em especial pela família Bush?

vii] Quando os EUA farão uma auto-crítica honesta sobre sua atuação criminosa na deposição de regimes democráticos e na imposição de ditaduras militares em todo o continente latino-americano, que custaram milhares de vidas de pessoas e impediram o direito à auto-determinação e soberania dos povos?

viii] Quando, enfim, a humanidade será reparada pelos crimes hediondos cometidos pelos governos norte-americanos?