quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Com Gerdau governo aderna à direita

Há muito “balão de ensaio” nas especulações feitas sobre a composição do segundo governo do presidente Lula. As distintas forças políticas e interesses se esgrimam à distância para testar possibilidades e alcances das várias hipóteses de nomes para o Ministério.

Um dos nomes aventados nos últimos dias para ocupar uma Pasta Econômica [Fazenda ou Desenvolvimento] foi o de Jorge Gerdau Johannpeter. A indicação do mega-empresário do aço para ocupar qualquer posto no governo Lula, conferiria um tom demasiadamente conservador ao governo.

Se Lula batizou o segundo governo como sendo do “desenvolvimento”, é de se duvidar se o desenvolvimento que defende o presidente é o mesmo usufruído por Gerdau – concentrado, desigual e privilegiador de interesses econômicos poderosos.

O empresário também teria de superar conflitos de interesses, pois na sua atividade empresarial faz amplos negócios com o Estado. Só no Rio Grande do Sul, por exemplo, o grupo Gerdau foi beneficiado com R$ 1 bilhão de reais em benefícios fiscais pelo atual governo. Ou se está de um lado ou de outro do balcão. A presença do mega-empresário em função chave do governo não pode sugerir que Gerdau governaria em "interesse próprio".

Repudiar e denunciar crime é crime

Emir Sader, sociólogo e articulista da Agência Carta Maior, foi condenado em primeira instância na ação movida contra ele pelo senador Jorge Bornhausen, aquele que prega o ódio contra os adversários políticos e torcia pela extinção da "raça" petista por 30 anos.

Na sentença, o nobre juiz não só proferiu a pena de hum ano para Emir como também recomenda que após o trânsito em julgado da condenação, Emir seja exonerado do cargo público de professor da UERJ!
O ilustre senador pode vociferar posições neonazistas, mas quem combate suas atitudes preconceituosas é punido. Por isso, personalidades, intelectuais, parlamentares, acadêmicos, militantes sociais e outras pessoas já estão fazendo circular um manifesto de solidariedade ao Emir e de denúncia dos tempos machartistas na política brasileira, com alcance no judiciário. Pessoas interessadas em assinar o manifesto podem enviar mensagem para solidariedadeaemirsader@hotmail.com.

Na Carta Maior, a repercussão completa sobre o assunto e o conteúdo do manifesto podem ser lidos clicando aqui.

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Quem é o maior vitorioso?

O PSDB e o PFL foram as principais forças derrotadas nas eleições gerais de 2006. O PFL perdeu 3 de quatro governos estaduais conquistados em 2002, e o PSDB perdeu um. As bancadas dos dois partidos na Câmara Federal perderam 19 deputados do PFL e 4 deputados do PSDB.

Mas a principal derrota foi o revés eleitoral de Alckmin, que perdeu 2,5 milhões de votos, combinado com o desempenho exuberante do Lula, reeleito com 58 milhões de votos, 60,81% do eleitorado. A direita perdeu no objetivo estratégico de fazer do segundo turno o prosseguimento sem tréguas do combate furioso ao governo Lula e deslegitimá-lo e desestabilizá-lo permanentemente.

Do lado vitorioso, quem se saiu melhor - Lula ou o PT? É fato que o PT saiu fortalecido, apesar dos prognósticos [ou torcida] sombrios que indicavam não só sua derrota estrondosa como o próprio comprometimento de sua existência – Bornhausen, por exemplo, disse que o Brasil se livraria da “raça” dos petistas por pelo menos 30 anos.

O PT sobreviveu ao massacre jamais desferido contra nenhum partido político no Brasil, e saiu-se fortalecido da eleição ao preservar a representação parlamentar existente desde as dissidências do PSOL, ao receber a maior votação nominal do país, ao conquistar cinco governos estaduais e ao repetir a representação parlamentar nos legislativos estaduais.

Mas Lula e o “lulismo” – mescla de carisma pessoal e capital eleitoral baseado nas políticas sociais de governo – sai da eleição ainda mais fortalecido. O “lulismo” opera simbolicamente acima e por fora do PT, e o próprio Lula realizou alianças políticas e eleitorais muito além do espectro de centro-esquerda, chegando à centro-direita. A questão fundamental é saber se o que é bom ao “lulismo” também é bom para o PT.

A força da superação

Está por ser interpretado o significado do resultado eleitoral no Rio Grande do Sul. É certo que a vitória eleitoral não veio, mas provavelmente o desempenho da Frente Popular teria sido desastroso fosse outro o candidato que não o Olívio Dutra ao governo do Estado.

Ainda que o governo estadual não tenha sido conquistado, o PT teve uma extraordinária vitória política. Os elementos que conformam essa vitória - chegar ao segundo turno, preservar as bancadas parlamentares, rearticular a capacidade de intervenção social, recompor a base de confiança na sociedade e reagrupar o tecido partidário – têm a assinatura de Olívio.

Viva a esquerda, viva Olívio, viva o PT, viva a Frente Popular e viva o povo gaúcho.

Equivalências

Lula teve vitórias significativas em 20 unidades da federação, chegando a fazer 86,80% no Amazonas, terra do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio. Na quase totalidade dos casos, o bom desempenho de Lula impulsionou as candidaturas aliadas aos governos estaduais.

Nos três estados do Sul, entretanto, apesar de ter melhorado a votação em relação ao primeiro turno, Lula ficou atrás de Alckmin, se convertendo numa espécie de teto de votação para os candidatos aliados aos governos estaduais.

Houve uma nítida correlação entre a votação de Lula e os resultados de Olívio no Rio Grande do Sul, de Amin em Santa Catarina e de Requião no Paraná, assim como houve equivalência de desempenho entre Alckmin e seus aliados nesses Estados, como se observa no quadro abaixo:

PARANÁ

LULA

2.663.423

49,25%

REQUIÃO

2.668.611

50,10%

ALCKMIN

2.744.697

50,75%

OSMAR DIAS

2.658.132

49,90%

SANTA CATARINA

LULA

1.481.344

45,47%

AMIN

1.511.916

47,29%

ALCKMIN

1.776.776

54,53%

LUIZ HENRIQUE

1.685.184

52,71%

RIO GRANDE DO SUL

LULA

2.811.658

44,65%

OLÍVIO

2.884.092

46,06%

ALCKMIN

3.485.916

55,35%

YEDA

3.377.973

53,94%

Em todas as situações, Lula teve votações e percentuais muito próximos dos candidatos aliados, porém Lula sempre teve desempenho inferior aos aliados. E o oposto é percebido no desempenho de Alckmin, que teve votações e percentuais muito próximos dos seus aliados e sempre obteve desempenho superior às candidaturas aliadas.

Neste contexto, é admissível pensar-se que a candidatura de Lula favoreceu as candidaturas aliadas onde ele teve bom desempenho, mas o desempenho de Lula impediu o crescimento das candidaturas aliadas onde o próprio Lula teve desempenho ruim.

É provável que, no três Estados sulistas, foram as candidaturas aliadas que puxaram a candidatura de Lula para cima, e tiveram o crescimento contido devido ao comportamento do eleitorado em relação ao governo Lula e ao próprio candidato.

Uma das maiores votações do mundo

Lula, ao contrário de Alckmin, cresceu para cima e, de acordo com a totalização do TSE das 22h17min, obtinha 58.183.587 votos, correspondentes a 60,81% do total dos votos válidos. Dessa maneira, Lula engordou seu capital eleitoral com mais de 11 milhões de votos em relação ao primeiro turno.

No segundo turno de 2002, Lula já havia obtido 52 milhões de votos, e com esse novo desempenho formidável, se torna um dos mandatários mais bem votados do mundo.

Com esse resultado, Lula sai do segundo turno com legitimidade robustecida para o segundo mandato, que sofria inúmeras ameaças golpistas da trinca conservadora - PSDB-PFL-PPS.

Alckmin perdeu 2,5 milhões de votos do 1º turno

De acordo com a totalização realizada pelo TSE até às 22h17min de 29/10/2006, com 125.682.830 votos apurados [99,82% do total de votos], faltando apenas 230.649 votos a serem apurados [0,18% dos votos], Alckmin obteve 37.498.659 votos [39,19% dos votos válidos].

Com isso, Alckmin e a política raivosa e elitista do PSDB-PFL sofreram um tremendo revés ao receber votação inferior à obtida no primeiro turno, que foi de 39.968.369 votos - 41,64% dos votos válidos. Alckmin, desse modo, cresceu para baixo e emagreceu 2.500.000 votos no segundo turno.