sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Rio Grande: Olívio para derrotar a direita

Jeferson Miola, integrante do IDEA – Instituto de debates, estudos e alternativas de Porto Alegre

A eleição em todo o país se encaminha para seu momento decisivo. No Rio Grande do Sul a etapa final ganha contornos dramáticos, com três candidaturas chegando emparelhadas e com chances de irem ao segundo turno: Olívio Dutra pelo PT, Germano Rigotto pelo PMDB e Yeda Crusius pelo PSDB.

As últimas pesquisas divulgadas – uma feita pelo Instituto Methodus e publicada na revista Voto e outra realizada pelo Correio do Povo -, lançam novas e discutíveis possibilidades de resultado eleitoral.

De acordo com os dois levantamentos, Rigotto e Yeda se credenciariam para o segundo turno, deixando Olívio fora da disputa. Este cenário, contudo, é decorrência de erros metodológicos das pesquisas, e não expressam a dinâmica eleitoral concreta.

A pesquisa Methodus-Voto, por exemplo, apresenta dois erros grosseiros na amostra investigada, superestimando o contingente de pessoas com média e alta escolaridade e subestimando o universo de pessoas de escolaridade restrita ao nível fundamental.

Apesar de haver aparente regularidade nos demais quesitos da investigação [gênero, faixa etária e classes de renda], a deturpação da amostragem relativamente ao item escolaridade produz uma discrepância grande – e extremamente artificial - em favor de Yeda.

Já a pesquisa do Correio do Povo não disponibilizou no TRE o conjunto de dados devidos, e apresentou os desempenhos dos candidatos empatados no limite das margens de erro. Entretanto, mesmo assim sua divulgação é acompanhada de uma interpretação jornalística orientando para o segundo turno entre Yeda e Rigotto.

No limite da prudência e responsabilidade, a manchete do jornal no máximo poderia referir o “acavalamento” das três candidaturas na reta final. Mas prevaleceu o propagandismo e a parcialidade, e então o Correio do Povo proclamou o resultado sonhado pelo conservadorismo gaúcho, de uma disputa em segundo turno que se realizaria exclusivamente no interior do seu próprio campo ideológico.

É óbvio que as pesquisas divulgadas não substituem o voto soberano do povo. Mas a apresentação de múltiplas pesquisas com sentidos semelhantes pode provocar o efeito desejado, de induzir fortemente a opção do eleitorado, fraudar a vontade popular e, especialmente, abater o ânimo da militância identificada com Olívio.

Nunca é demais lembrar que no dia 1º de outubro de 1998, a três dias do primeiro turno, a manchete de capa de Zero Hora era: “Britto está 10 pontos à frente de Olívio”, acrescentando no sub-título que a “eleição seria decidida no primeiro turno”. O resto da história sabemos: a vontade do povo gaúcho não foi a mesma do grupo RBS e Olívio foi eleito governador no segundo turno.

O comportamento do Correio do Povo nesta eleição não só em relação às pesquisas, como também devido à cobertura tendenciosa e desfavorável ao PT, é o que marca a diferença no processo eleitoral no Rio Grande do Sul neste ano. A opção do “velho” Correio, de se aproximar da linha editorial do seu concorrente Zero Hora, retira o pouco de equilíbrio jornalístico que poderia haver nesta eleição.

Apesar do sonho dourado do campo conservador gaúcho de excluir Olívio do segundo turno, a historiografia político-eleitoral do Rio Grande não autoriza concluir que a disputa venha a se circunscrever a um único campo do espectro ideológico. A tradição do debate polarizado, da disputa acirrada, do Gre-Nal político falará outra vez mais alto e reproduzirá novamente o cenário de enfrentamento entre a esquerda e a direita no Estado.

Olívio e o PT contam com uma forte estrutura partidária e vêm sobrevivendo a todas as vicissitudes da política nacional. A cada dia a campanha de Olívio ganha empolgação e vigor na afirmação enquanto alternativa democrática e popular ao tsunami causado ao Rio Grande pelo PMDB de Rigotto, juntamente com o PSDB de Yeda.

As pesquisas – e mais que isso, o sentido de manipulação que contém -, foram como um sopro contínuo no braseiro da candidatura de Olívio, e vêm incendiando o ânimo da militância da Frente Popular, já calejada com as conhecidas manobras do passado.

A direita gaúcha, apesar de estar mais apoiada do que nunca numa cobertura escandalosamente tendenciosa da mídia, passa a enfrentar o dilema de devorar-se entre si. A esgrima real se dá entre Rigotto e Yeda para ver quem vai ao segundo turno para disputar o comando do Estado com Olívio.

Rigotto desde o início lidera as pesquisas, porém em bases estacionárias e limitadas. Denota enorme dificuldade de crescimento e limites para a expansão da sua candidatura. Além disso, seu governo pálido e destituído de grandes marcas não ajuda a animar o eleitorado em direção ao futuro.

Yeda, apesar da frágil maquiagem de “nova”, dos desgastes de uma gestão incompetente da campanha que desmente o bordão do “novo jeito de governar” e da manifestação racista e preconceituosa num debate, parece ser a melhor beneficiária do crescimento momentâneo de Alckmin no Estado.

Seja como for, Olívio praticamente tem assegurado seu lugar no segundo turno. E torce para que a disputa ao interior da direita gaúcha seja encarniçada a ponto de incompatibilizar a base social de um apoiar o outro no segundo turno.

A vitória de Olívio não significará somente a vitória do PT e da Frente Popular no Rio Grande, mas o revigoramento do percurso da esquerda no país.

Onda que vale é a do voto do povo

A onda que vale, numa eleição, é a do voto.
E voto, quem concede, é o povo, com soberania e independência.

A onda que conta não é aquela que os poderosos inventam. A onda de verdade é a que vem da força do povo. E o povo quer Olívio, de novo, pro Rio Grande voltar a crescer e ser generoso com a maioria que mais precisa.

Os institutos de opinião, a mídia e a direita sempre tentam fraudar a vontade popular de várias formas, principalmente através da indução com pesquisas com resultados pré-fabricados.

Esta é a mais atípica eleição dos últimos tempos, assim como nesta eleição o comportamento da mídia foi mais escandalosamente e despudoradamente parcial - em favor de Rigotto e Yeda, nesta ordem.

O Correio do Povo, que tradicionalmente representava um contrapeso aos excessos cometidos por Zero Hora e pelo grupo RBS, nessa eleição preferiu andar na companhia do “império”.

Por isso, é importante dizer que nada – nem pesquisas, nem notícias falsas, nem ataques odiosos - pode alterar o vigor, o ânimo e a dedicação militante das pessoas que ajudarão a consolidar uma exuberante e surpreendente vitória do Olívio nesta eleição.

Consciência não é substituída por pesquisas eleitorais. A consciência popular é a força da mudança e de construção do novo governo da Frente Popular.

O povo do Rio Grande tem a consciência de que Olívio representa autenticamente o novo, e só ele é capaz de derrotar as candidaturas da direita, que fazem o Estado retroceder ao invés de avançar junto com o Brasil de Lula.

Esta é a hora de cada militante se multiplicar por dois e a cada hora das próximas 48 horas trazer mais seis militantes que formarão muitas constelações militantes que, com entusiasmo e esperança, vão levar as palavras da vitória do Olívio em todas as casas, bairros, botecos, escolas, fábricas, igrejas, cinemas, repartições, lojas, festas, colônias, rádios comunitárias e recantos desse Estado.

Para ir à vitória, com o voto da maioria do povo.

A onda que conta não é das pesquisas, é a que vem da força do povo.

"Alto lá! Esta terra tem dono, ninguém no-la tira!!"

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

A verdade é libertadora, senador

O senador Bornhausen escreve o artigo “Queremos a verdade!” [assim, com ponto de exclamação e tudo!] na Folha de hoje, 28/09. Ele pergunta, no mesmo tom inquisitorial com que sentenciou o fim da “raça dos petistas”: “quem forneceu o dinheiro para a operação suja do dossiê?”.

A resposta é simples: quem se envolveu com isso praticou uma estupidez que pertence ao universo existencial, moral e político do senador Bornhausen e sua malta.

E, aproveitando a ocasião, cabe perguntar ao senador, este ser político fermentado no regime militar ao qual manteve-se fiel por 21 anos; que foi ministro de Collor, líder do corrupto e privatista governo FHC, e que também acumula a profissão de banqueiro e eterno detentor do direito de exploração dos Free shops dos aeroportos brasileiros:

- de onde vem a fortuna pessoal e familiar deste oligarca do século XXI com inclinação ideológica da Alemanha dos anos 30 do século XX?

Depois da novela: debate ou guerra?

O debate da Globo se transformou no grande dilema e no fato mais relevante do final da campanha graças à estupidez do dossiê. Passaria despercebido, não fosse a turbulência causada pelo episódio na dinâmica eleitoral, podendo alterar as chances de vitória re-eleitoral de Lula no primeiro turno.

Comparecer a debates públicos, independentemente da condição eleitoral que se desfruta, é um predicado democrático e um exemplo republicano. É má escola política aquela inaugurada por FHC no gozo de enormes vantagens numéricas em relação aos adversários da época – inclusive o próprio Lula.

Mas o debate da Globo não se processa em condições normais de temperatura, pressão e republicanismo. Ao contrário, existe uma atmosfera envenenada que abrange a mídia, os políticos lacerdistas, o Congresso, o TSE e procuradores da República. Por isso a reflexão sobre o comparecimento de Lula é menos teórica em “estado puro” e mais tática-eleitoral.

Os inimigos e adversários nunca esconderam o desejo de afofar Lula em debates. O debate da Globo foi editorializado como o acontecimento mais importante e decisivo dessas eleições - do ponto de vista da direita e do conservadorismo que tenta a última cartada para evitar sua derrota já.

A gentileza e candura dos adversários é tanta que expressam preocupações de prejuízos ao próprio Lula, caso ele se ausente [sic]. Mais: comprometem-se a tratá-lo com doçura durante a contenda.

Hoje a noite não haverá debate, mas sim uma guerra de quatro contra um. É a Globo, HH, Alckmin e Cristóvam contra Lula.

Quer Lula compareça ou não, a guerra terá sempre esta configuração de 4 a 1. No debate será 4 a 1 e na repercussão do debate também será 4 a 1. Caso Lula se ausente, este placar certamente não se alterará, porém não poderão explorar nada além dos fatos que atualmente exploram, sem acréscimo de qualquer conveniência produzida no debate.

As condições de atacarem o Lula são infinitamente maiores que a sua capacidade de defesa, por mais sagaz e hábil que seja na construção de respostas.

A hipótese de conter e/ou recuperar as perdas eleitorais havidas nos últimos dias é neutralizada pela hipótese mais provável de perder pontos frente aos ataques multidirecionais que receberá.

Mas em última instância quem decidirá isso é o próprio Lula ou os sábios que o cercam, que sempre conseguem metê-lo [e a todos os petistas] em enrascadas monumentais. Nada autoriza a não pensar que não façam, nesta hora, a pior escolha.

Pode estar acabando a temporada na UTI

As pesquisas Datafolha e Ibope divulgadas ontem sinalizam a vitória de Lula no primeiro turno, porém com redução da diferença que Lula obtinha em relação aos demais adversários antes da estupidez do dossiê.

De qualquer maneira, é um sinal claro de que as perdas sofridas devido à estupidez do dossiê foram estancadas. Um dado igualmente importante é a elevada aprovação do governo Lula, com índices próximos de 50% de ótimo e bom. É um rochedo, e por isso a probabilidade de vitória no primeiro turno é cada vez maior.

O momento não permite e menos ainda recomenda celebrações antecipadas. É hora de continuar monitorando minuto a minuto para definir a melhor tática a ser adotada. Até porque o paciente ainda continua na UTI, talvez com a diferença de que já recobra alguns sentidos, dispensa aparelhos e inclusive já tenta passar a mão na bunda da enfermeira. Mas os adversários estão marcando em cima e apesar de não disporem de horário eleitoral gratuito, dispõe de horário eleitoral concedido pelo monopólio da mídia conservadora.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Se houve armação não pode ficar no TSE

Marco Aurélio de Mello não pode continuar presidindo o TSE. O Ministro, além de ter alardeado com muito barulho a existência de grampo telefônico no TSE de maneira irresponsável e precipitada, agora desdenha do trabalho técnico da perícia criminal da Polícia Federal.


Continua atuando como agente político, não como magistrado. Com a revelação de que não há indícios de existência de grampos, Mello não só pode ser suspeito de ter feito uma armação, como com seu comportamento perde o pouco de confiança para presidir o processo eleitoral brasileiro.


A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais [APCF] divulgou nota oficial hoje contestando as declarações do presidente do TSE, que põe em dúvida o trabalho dos peritos profissionais. A nota está acessível no sáite daquela Associação [clique].

O trecho final da nota diz o seguinte, numa referência direta ao narciso de toga:

Num momento já contaminado pela excitação que a disputa eleitoral naturalmente levanta, alguns, infelizmente, parecem preferir os holofotes da imprensa, sob os quais tentam manter-se a qualquer custo, ao invés de recolher-se à reflexão ponderada sobre as próprias falhas cometidas ao longo do episódio.

É como a pessoa que, insatisfeita com a própria aparência, volta sua ira contra o espelho, como se ele fosse o culpado.


Nunca foi tão recomendável o acompanhamento externo das eleições no Brasil. A direita do país se articula em todos os planos e em todos os poderes para desestabilizar o governo e, na hipótese de vitória re-eleitoral de Lula já no primeiro turno, prosseguir atacando-o com a virulência udenista de sempre.

E por fim, o que falta para que algum partido político peça o impedimento do presidente do TSE?

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Giro sempre à esquerda

O atual momento político não comporta ambigüidades. Independentemente do grau de envolvimento de alguns estúpidos do PT no escândalo do dossiê – e foi grande a participação de petistas no caso -, o fato é que a direita sabe exatamente onde quer chegar e o que quer atingir: a esquerda e sua vocação transformadora.

Pode-se contestar o governo Lula sob muitos ângulos, mas jamais se pode menosprezar o quão seria desastroso um refluxo à direita no Brasil a partir de uma eventual derrota eleitoral de Lula.

É nesse rumo que Emir Sader analisa no Blog do Emir a conjuntura brasileira, com lucidez e pela esquerda.

Não é Verde, é Laranja

Muitas pessoas que nutriam simpatias pela causa ambientalista se decepcionaram com a trajetória oportunista do candidato do PV nesta eleição.

Vinha como franco atirador, disparando para tudo quanto foi lado, mas nas últimas semanas o flerte com Rigotto evoluiu até um entendimento digamos assim “mais estável”.

Nos debates da TVE e da AGERT, já operou abertamente como “laranja” do PMDB.

E sonha superar a cláusula de barreira nesse zig-zag.

A saber: recentemente foi candidato a vice do PP para a Prefeitura de Porto Alegre e foi secretário-adjunto da administração Fogaça.

Armação de toga?

A perícia técnica realizada no TSE não confirmou ter havido grampeamento dos telefones dos Ministros do Tribunal.

Mesmo assim o presidente do TSE, Ministro Marco Aurélio de Mello, continua fazendo insinuações inaceitáveis para alimentar um clima de suspeição e de crise institucional:

Eu soube que não encontraram nada, mas isso já era presumível. A coisa veio à tona na sexta. Houve tempo bastante para aqueles que colocaram a escuta retirarem. A minha parte eu fiz, que foi comunicar ao procurador-geral da República e ao ministro da Justiça e escancarar as mazelas. Não sou parte nas investigações. A vítima, a meu ver, é a União. Teria sido um ato contra um serviço da União.”.

Terá sido pura invenção do presidente do TSE? Terá ele simplesmente inventado essa estória escabrosa de grampos telefônicos para vitaminar os ataques contra o governo, o PT e o Lula?

Cara de pau este Marco Aurélio de Mello. Na maior desfaçatez lança suspeitas sobre o trabalho técnico da Polícia Federal para continuar acusando o governo de bisbilhotar seu santo gabinete.

Zero Hora - o Partido

Zero Hora está se esmerando na arte de prejudicar o PT. E sabe muito bem como fazer isso. Assim como já não disfarça o desejo [ou delírio] de impedir a chegada do candidato Olívio Dutra ao segundo turno.

A cada edição o jornal demonstra sua capacidade de auto-superação em destruir a imagem do PT.

É difícil prever o que o partido/jornal ZH poderá aprontar nos próximos dias, principalmente na edição dominical, dia da eleição. Toda vacina é válida, pois os antecedentes do grupo RBS não autorizam ingenuidade na abordagem da questão.

O grupo RBS caminha para novo ciclo de desgaste e de conflito perante a opinião pública; para a perda da pouca credibilidade que lhe resta.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Vilania pela esquerda

Muitas pessoas da esquerda social e partidária ajudaram, com suas assinaturas, a legalização do PSOL. De boa fé e mesmo divergindo da opção daqueles que saíram do PT de fundarem um outro partido, muitas pessoas concederam apoio democrático para que os dissidentes do PT pudessem viabilizar uma alternativa política e institucional.

Gente do PT, PCdoB, PSB, dos movimentos sociais, intelectuais e tanta gente que, mesmo não vinculada a partidos políticos, apoiou o direito de reconhecimento formal do PSOL.

O que ninguém poderia aceitar é que o PSOL se transformasse em braço acessório do PSDB e do conservadorismo brasileiro. Falando claro: que o PSOL fizesse o jogo da direita.

Os fatos e circunstâncias em que isso ocorre são abundantes. Às vezes nem mesmo se consegue distinguir se uma generalização adjetiva contra o PT foi feita pela Heloísa Helena ou pelo ACM, por Serra, Alckmin ou pelo FHC.

Nas eleições no RS não é diferente. O candidato do PSOL, Roberto Robaina, tem como esporte predileto atacar neuroticamente Olívio e o PT. Ele simplesmente secundariza – quando não abstrai – as candidaturas neoliberais de Rigotto e Yeda. Ataca o PT e Olívio e ataca baixo, mas não num debate programático.

É lamentável que o PSOL tenha se tornado uma caricatura de si mesmo, do seu dogmatismo e do messianismo dos “novos” dirigentes revolucionários. Segue a pior tradição da esquerda doutrinária que crê no determinismo da história e perde a noção histórica e estratégica de discernir quem são e onde estão os adversários de classe.

O Olívio, no primeiro governo democrático e popular do Rio Grande do Sul, foi vítima da vilania da direita. Vilania de quem reivindica tradição de esquerda tem outro nome.

Governador nas 24 Horas do dia

Do candidato Olívio Dutra na manifestação de despedida no debate promovido hoje pela AGERT:

Já fui governador. Mas fui governador 24 horas do dia. Não entendo essa de dizer que é governador somente no horário comercial. Serei governador outra vez 24 horas do dia.

Olívio se referiu ao governador-candidato, que na justificativa de ausência no debate, registrou que não poderia participar do encontro da AGERT por ser no horário “que atua como governador”.

De fato o governador-candidato nem precisa fazer muita campanha, podendo dispender seu tempo “fora da repartição” ou “fora do expediente” para brincar com o cachorrinho novo.

Com a mídia dando a força escandalosa que dá, mais a conversão de postos de vacinação em comitês eleitorais, o governador-candidato se dá ao luxo de guardar suas energias.

Rigotto cada vez mais se parece com Britto: enrola, mente e é o “cavalo do comissário” desta eleição.

Crise editorializada

Os jornais brasileiros de circulação nacional como a Folha, o Estado de SP, Globo e Correio Braziliense trazem manchetes de capa das edições dessa segunda-feira em torno da declaração de Lula proclamando vitória no primeiro turno.

A ver:
Correio Braziliense: Lula e Alckmin empatam no DF. Presidente diz que ganhará no 1° turno
O Estado de São Paulo: Lula: "Podem denunciar, mas ganho no 1° turno"
Folha de São Paulo: Lula diz que "mata" eleição no 1° turno
O Globo: Lula se compara a Cristo e diz que ganha no 1° turno

Nas matérias predomina a cobertura sobre o escândalo provocado pelo dossiê e a respeito dos estúpidos personagens que fizeram a picaretagem. Muito pouco é reportado sobre o conteúdo do dossiê, que são as falcatruas da turma do PSDB junto com a famiglia Vedoin. De qualquer maneira, o principal da cobertura não trata o escândalo como uma crise. O caso do dossiê é tratado como deveria, ou seja, como um escândalo.

Zero Hora, porém, é semiótica.
A edição de hoje não faz mera cobertura sobre o escândalo do dossiê e seus desdobramentos, mas sim cria o clima de recepção de Lula, que chega ao Estado para compromissos oficiais e de campanha.

A manchete de capa do jornal é “Em meio à crise, Lula visita o RS”.
Nas matérias internas, ZH se esmerou com reportagens sobre “o serviço secreto” [sic] do PT com ilustrações até de PC Farias na matéria; sobre a queda de Lula nas pesquisas; a “blindagem” [sic] do PT gaúcho a Lula nas atividades de campanha no RS; sobre o mal-estar de Alckmin e por aí vai.

Mas surpreende muito a reportagem “Clube Militar vê risco à democracia”. A matéria, que destoa de toda a imprensa nacional, ganha destaque na edição de ZH porque “confere” veracidade à idéia de “crise” estampada na capa.

Dispensável referir que as atividades da campanha Olívio, especialmente a enorme [e maior] caminhada no Brique da Redenção, não figurou no jornal.

Se afastando das bases

O candidato Turra anda na contramão das bases do PP em todo o interior do Rio Grande. Muitos prefeitos, vereadores e dirigentes partidários já manifestam a decisão de apoiar o candidato Olívio Dutra no segundo turno.

Olívio colhe os frutos do trabalho respeitoso, sério e republicano que manteve com representações de todos os partidos políticos quando foi governador do Rio Grande e depois como Ministro das Cidades. Olívio avançou e muito e valorizou os Municípios na perspectiva de uma verdadeira relação federativa.

A posição crispada de Turra contra o Olívio nos debates não agrada prefeitos, vereadores e simpatizantes do PP no interior, e pode afastar a base do PP do candidato Turra já no primeiro turno, o que pode ser ruim para as pretensões partidárias do PP.

Ao invés de realizar um debate programático, Turra tem preferido atacar Olívio. Parece querer constrangê-lo em relação a questões como a Ford e ocupações de terra. Olívio, contudo, responde com tranqüilidade, mas certamente preferiria avançar na apresentação de propostas para tirar o Rio Grande do buraco em que a coligação conservadora de Rigotto o meteu.

Turra também se passa quando nega sectariamente os avanços importantes tidos no RS com o governo federal, como o seguro agrícola.

Desse jeito, o candidato do PP acaba desempenhando um papel de “laranja” do PMDB e do governador-candidato Rigotto. E isso não agrada a setores identificados com o PP em todo o interior, que podem migrar de candidatura e apoiar Olívio já no primeiro turno.

Desta vez foi fora do ar

A candidata Yeda não compareceu ao debate da TVE ocorrido ontem a noite. Justificou a ausência devido a uma gastroenterite.

Menos mal, porque da última vez que participou em debate eleitoral, a gastroenterite da candidata foi no ar e ao vivo, quando respondeu colericamente a pergunta de outro candidato. Na ocasião, expôs uma posição racista e seu preconceito contra as religiões afro-brasileiras.

Aos leitores da ZH de hoje, 25/09, o Biruta pede que se manifestem quanto à técnica jornalística do jornal, que colocou as notícias e fotografias de Yeda e Alckmin em páginas espelhadas [8 e 9]: Yeda e Alckmin, unidos até na doença.

As pesquisas, que detectam crescimento de Alckmin no RS, são a senha para a força que ZH volta a dar para Yeda.

Ainda monitorando na UTI

A semana passada teve um movimento frenético no mercado de pesquisas eleitorais.

O Ibope e o Datafolha registraram no TSE e divulgaram pelo menos duas pesquisas que cada instituto realizou entre o início e o fim da semana.

A variabilidade detectada ainda não permite conclusões – menos ainda definitivas. Apesar disso, muitos jornais e TV´s publicaram desejos e comemorações, porém não reportagens e prospecções acerca das pesquisas.

Ainda não é possível aferir a extensão efetiva do dano que a estupidez do dossiê trará para a reeleição de Lula no primeiro turno. Mas é evidente que além dos prejuízos políticos e de imagem, a estupidez do dossiê causou perdas eleitorais.

Em Estados com tradição mais crítica, como o Rio Grande, é plausível acreditar-se em contaminação da bandalheira do PT nacional na candidatura do PT e a produção de estragos justamente num momento em que começa a se criar uma onda ascendente do Olívio rumo à vitória. Fato também a ser visto e monitorado.